A lista do PS às eleições europeias não é
propriamente o que se possa dizer um prodígio de competência em questões
europeias. Retirando os casos de Elisa Ferreira, Maria João Rodrigues e Ana
Gomes, em domínios diferenciados de amplo e reconhecido conhecimento sobre políticas
europeias, é difícil antecipar o que farão as restantes almas pela defesa dos
destinos portugueses em tão complexa relação de forças. Mesmo a passagem de
Francisco Assis pelo Parlamento Europeu não deixou marcas sensíveis, pelo menos
do ponto de vista dos ecos que nos foram chegando. E a colocação de Manuel dos Santos
em 9º lugar é um prodígio de imaginação, para não lhe chamar outra coisa. Mas
no conjunto dos lugares presumidamente elegíveis é bem melhor do que uma tentação
aparelhista podia ter implicado.
Por isso, a reação destemperada e inenarrável de Paulo Rangel à composição da lista do PS, trazendo para a praça pública a ideia
de que a lista contém uma cedência ao despesismo socrático (Rangel estaria a
referir-se a Pedro Silva Pereira) só tem explicação nos efeitos colaterais, nem
sempre previsíveis, do emagrecimento do deputado europeu Rangel que nos tem
habituado a posições bem mais pensadas e coerentes do que esta mera atoarda. Até
porque se o dito olhasse para a sua lista haveria de convir que de personagens
como Ruas ou Bota é de esperar uma passagem por Bruxelas e Estrasburgo que certamente
deixará marcas, embora não saibamos bem em que matérias. Aliás, em matéria de
pensamento, se há lista em que a coerência em matéria de modelo de Europa deixa
a desejar é precisamente a do PSD, pois nitidamente Paulo Rangel e Carlos Coelho
alinham noutro planeta europeísta que não é seguramente a dominante no partido
e na lista.
Por esta amostra reativa nada de estimulante é
esperado do debate eleitoral em torno das europeias. Mas pelo menos que nos
poupem a personagens como Rangel a travestirem-se de papéis e estatutos que não
são os seus, a não ser que estejamos a assistir a uma transmutação estranha
suscitada pela andrenalina eleitoral. Mendes Bota estaria mais predestinado
para esses discursos.
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