quarta-feira, 26 de março de 2014

ATÉ TU Ó DEPUTADO RANGEL!



A lista do PS às eleições europeias não é propriamente o que se possa dizer um prodígio de competência em questões europeias. Retirando os casos de Elisa Ferreira, Maria João Rodrigues e Ana Gomes, em domínios diferenciados de amplo e reconhecido conhecimento sobre políticas europeias, é difícil antecipar o que farão as restantes almas pela defesa dos destinos portugueses em tão complexa relação de forças. Mesmo a passagem de Francisco Assis pelo Parlamento Europeu não deixou marcas sensíveis, pelo menos do ponto de vista dos ecos que nos foram chegando. E a colocação de Manuel dos Santos em 9º lugar é um prodígio de imaginação, para não lhe chamar outra coisa. Mas no conjunto dos lugares presumidamente elegíveis é bem melhor do que uma tentação aparelhista podia ter implicado.
Por isso, a reação destemperada e inenarrável de Paulo Rangel à composição da lista do PS, trazendo para a praça pública a ideia de que a lista contém uma cedência ao despesismo socrático (Rangel estaria a referir-se a Pedro Silva Pereira) só tem explicação nos efeitos colaterais, nem sempre previsíveis, do emagrecimento do deputado europeu Rangel que nos tem habituado a posições bem mais pensadas e coerentes do que esta mera atoarda. Até porque se o dito olhasse para a sua lista haveria de convir que de personagens como Ruas ou Bota é de esperar uma passagem por Bruxelas e Estrasburgo que certamente deixará marcas, embora não saibamos bem em que matérias. Aliás, em matéria de pensamento, se há lista em que a coerência em matéria de modelo de Europa deixa a desejar é precisamente a do PSD, pois nitidamente Paulo Rangel e Carlos Coelho alinham noutro planeta europeísta que não é seguramente a dominante no partido e na lista.
Por esta amostra reativa nada de estimulante é esperado do debate eleitoral em torno das europeias. Mas pelo menos que nos poupem a personagens como Rangel a travestirem-se de papéis e estatutos que não são os seus, a não ser que estejamos a assistir a uma transmutação estranha suscitada pela andrenalina eleitoral. Mendes Bota estaria mais predestinado para esses discursos.

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