quarta-feira, 12 de março de 2014

O ECONOMISTA, O PROFESSOR, O PRESIDENTE E O POLITICÃO


Aposto que os portugueses já sentiam a falta da assertividade e da acutilância do seu tão trabalhador e humilde presidente Aníbal. Mesmo não primando pela coerência e proferindo bocas desencontradas sobre as mais diversas matérias que afetam o futuro do País e dos seus concidadãos. Na sua última deslocação, uma visita do casal Mariani à Nestlé em Avanca, explicou aquela aparente desafinação nos seguintes termos: “Falar oralmente, qualquer um pode fazer mesmo não sabendo nada das questões. Mas escrever, assinar por baixo e publicar só pode fazer quem estuda bem os problemas.”

Ou seja: a fazer fé no afirmado, deve tomar-se na devida conta o que o professor de Economia estuda, pondera, escreve, assina e publica – como é o caso do seu recente prefácio, que o “Expresso” divulgou em primeira mão neste fim de semana, sobre o pós-troika e da preferência nele manifestada por uma saída com cautelar. E que o “Jornal i” tão bem sintetizou naquela titulação dividida entre um “Cavaco versão Cruella” e um “A austeridade é para sempre” e na ilustração dalmaciana que a acompanhava.



Em contrapartida, não será de conceder grande significado e importância ao que a criatura resolva declarar oralmente. Como foi o caso à margem da referida visita quando lhe apeteceu sublinhar que “é fundamental insistir, continuar a insistir, é preciso que os portugueses vão percebendo quanto perdem em termos de emprego, quanto perdem em termos de salários, quanto perdem em termos de prestações sociais, quanto perdem em termos de justiça na distribuição do rendimento se não houver um compromisso político entre as forças que estão comprometidas com o programa de ajustamento”. Acrescentando, ainda, com aquele rigor metodológico que o carateriza: “Se os portugueses tiverem cada vez mais consciência de que perdem muito na falta desse compromisso, é provável que se comportem em conformidade e como que ajudem os políticos portugueses a dar o passo decisivo”. E terá sido também a mesma lógica nonchalant de passeante de circunstância a presidir à sua tirada final: “As taxas de juro podiam ainda descer mais do que aquilo que têm descido nos últimos dias” – porque, não deixando de ser óbvio que o sobe sempre acaba por descer, sempre teria interesse que se conhecesse o que entende o professor serem as determinantes fundamentais que estão subjacentes ao atual comportamento descendente dos spreads relativos à nossa dívida externa?

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