domingo, 30 de março de 2014

O MELHOR DO FIM-DE-SEMANA



Manuela Ferreira Leite, sábado, Expresso, suplemento Economia, “Reflexões”
“ (…) O país acordou estupefacto com a notícia aparentemente bizarra de que o valor das pensões passaria a variar anualmente de acordo com a evolução da economia e da natalidade. Ao insólito da proposta, junta-se o facto de esta estar em apreciação no âmbito do documento de estratégia orçamental a apresentar em Bruxelas, isto é, no âmbito do Ministério das Finanças e não no do Ministério que tutela os assuntos sociais. Não se trata, portanto, de alterações relativas à sustentabilidade do sistema, mas antes de um artifício imaginativo para, mais uma vez, procurar reduzir despesas que ajudem a cumprir o valor de um défice programado. (…) “
Vovó Ferreira Leite continua mortífera e louve-se tal lucidez. Começa a ficar líquido que esta maioria não consegue uma visão de sustentabilidade para o sistema de pensões, ao estilo do que o ministério de Vieira da Silva introduziu e que tão boas referências provocou nas organizações internacionais da época. O governo não consegue distinguir entre o que é peso de insustentabilidade determinado pela situação de abaixamento do produto real da economia face ao seu produto potencial e o que resulta de fatores estruturais, como a produtividade e a taxa de fertilidade.
Sábado, Expresso, Gente, Melhores lugares de Lisboa para escrever manifestos e intrigas
Sobre a reestruturação da dívida – Versalhes
Para ameaçar deitar abaixo governos  - Avis
Para lixar a troika –Mercado de Martim Moniz
Para apoiar credores – Grémio Literário
Para negócios na CPLP – Horta dos Brunos
Para não pagar a dívida – Hotel Vitória
Para negociar com angolanos e chineses – Hotel Ritz
Para lembrar outros tempos - Turf
Um pouco de má língua e crónica social também anima o fim-de-semana.
Rui Cardoso Martins, domingo, Suplemento 2 do Público, “Conselho de Extravagâncias Públicas”
“ (…) Desde a histórica intervenção de Teodora, responsável pelo Conselho das Finanças Públicas, em março de 2014, começou a sucessão de milagres e o país ficou melhor, como diz o outro. Tão melhor que é uma alegria conseguir voltar atrás, ao tempo em que éramos felizes. Como Teodora Cardoso, ainda menina de saias, a provar o seu primeiro rebuçado em Estremoz, onde nasceu.
Quando foi aplicada a nova taxa dos levantamentos, perceberam os analistas, começou o “milagre do colchão de palha”: em vez de ter dinheiro no banco, os portugueses quiseram receber tudo em notas e de uma só vez, e pela porta do cavalo. E guardavam o dinheiro entre a esteira e o colchão, a ganhar patine e humidade, dando um gosto especial á aventura de ir comprar uma sardinha e duas carcaças para a família.
O fim do dinheiro de plástico (sujeito a taxas e impostos automáticos) ditou também o reaparecimento dos açucareiros velhos, todos nicados nas bordas, transformados em mealheiros de notas enroladas.
O êxito da iniciativa foi tão grande que alastrou às solas falsas das botas dos cavalheiros (a chocalharem moedas de dois euros pela rua) e aos soutiens e cintos de ligas das senhoras, carregados de notas de 20 euros, a abanarem as ancas à frente dos homens. Imediatamente, apraz-nos dizer, se consolidou a viragem económica e houve efeitos colaterais muito positivos na demografia: nasceram milhares de bébés com estas medidas de ajustamento económico tão giras que despertam a vontade de fabricar mais heróis para uma nação que vai pagar as dívidas até ao último cêntimo.
(…) Aos 70 anos, Teodora Cardoso ainda tem muito para dar ao país e ao esforço de consolidação orçamental. É com alegria que assistimos a esta fase mais criativa, abandonando anteriores posições negativistas, há poucos meses, como sugerir que a política de redução de salários da troika nos transformará num país de “terceiro ou quarto mundo”, ou insinuando que as previsões do Governo eram “demasiado optimistas”. (…) “
Só o humor corrosivo de Rui Cardoso Martins é capaz de lidar com a extravagância cardosiana da taxa dos levantamentos.

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