domingo, 30 de março de 2014

WHATSAPP


O excesso de liquidez nos mercados, largamente resultante das políticas expansionistas levadas a cabo pelos maiores bancos centrais do mundo, não se tem refletido apenas numa revisão das leituras de risco relativas à Zona Euro e numa consequente baixa aliviante dos spreads a que temos vindo a assistir nos últimos meses. Aquela abundância também faz sentir a sua presença em termos relevantes por via do acréscimo verificado no volume de negócios de alguns setores de atividade, com destaque para a área tecnológica onde já existem analistas a referir-se a uma nova vaga de crescimento digital (50 mil milhões de dólares nos primeiros dois meses do ano, um montante que apenas encontra paralelo nos 78 mil milhões de inícios de 2000, os tempos da chamada dotcom bubble).

É neste quadro que a recente compra da WhatsApp pela Facebook surge associada ao caso mais emblemático desta nova fase de recrudescimento do M&A (fusões e aquisições) internacional e tecnológico. Com muita polémica pelo meio, entre os defensores de uma perigosa bolha em gestação – os 19 mil milhões (bilhões, dizem os brasileiros) envolvidos por Mark Zuckerberg contrastam significativamente com o décimo de valor aplicado em 2006 pela Google na You Tube ou mesmo com os 8,8 despendidos pela Microsoft na Skype – e de um passo precipitado e altamente arriscado por parte da empresa detentora da maior rede social do mundo – 19 mil milhões por uma companhia com apenas 55 empregados e gerida com um limitado funding de 60 milhões –, por um lado, e os partidários de que se terá tratado de um movimento estratégico essencial (ademais favorecido pela configuração concreta da operação, que terá envolvido uma maioria de 15 mil milhões em ações consideradas fortemente sobrevalorizadas) para permitir à Facebook aceder àquele que era já um ameaçador volume de utilizadores detido pela WhatsApp (450 milhões) e assim continuar em boas condições de disputa da liderança setorial com a Google, por outro.

De uma forma ou de outra, o que não deixa de ser de grande perspicácia é a observação tendente a sublinhar a oportunidade do modelo de negócio lançado pelos acionistas da WhatsApp, a qualidade do modo como exploraram a sua gestão e a batelada da premiação financeira com que acabaram por ser abençoados. Mais um exemplo do imprevisível e inexplicável mix de mérito e acaso que vai fazendo a ventura e a desventura das sociedades contemporâneas…

(Jeremy Banks, “Banx”, http://www.ft.com)

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