sábado, 22 de março de 2014

FÉLIX E OS OUTROS



Esta sexta-feira estive no seminário “Portugal: que funções na globalização?” que a Confederação de Comércio e Serviços de Portugal (CCP) organizou no Centro Cultural de Belém, com algum acompanhamento do governo, tendo Jorge Moreira da Silva aberto o seminário e Castro Almeida encerrado o mesmo.
A CCP está compreensivelmente interessada em demonstrar a presença dos serviços nas atividades transacionáveis, combatendo o velho preconceito de que os serviços configuram predominantemente atividades não transacionáveis e que por isso devem poder aceder aos instrumentos de política pública de promoção das atividades transacionáveis.
Para fundamentar e bem esse esforço, a CCP tem-se apoiado fundamentalmente na reflexão e criatividade de Félix Ribeiro, indiscutivelmente um dos nossos grandes especialistas da prospetiva estratégica e cenarização. Félix Ribeiro está neste momento numa fase de grande produção e criatividade, alimentando quer a reflexão da CCP sobre o papel impulsionador dos serviços nas funções que Portugal tem de discutir no contexto da globalização, quer ainda um recente livro por si editado (A Economia de uma Nação Rebelde, Guerra e Paz) e que mereceu na passada segunda-feira rasgados elogios de Medina Carreira (o que é obra) e alimentando ainda o trabalho que Artur Santos Silva está a patrocinar na Fundação Calouste Gulbenkian sobre os ecossistemas de inovação que se têm vindo a formar em torno das concentrações urbanas do nosso noroeste, Braga, Guimarães, Porto e Aveiro. A entrevista de hoje ao Expresso culmina esse momento de grande produção.
As teses de Félix Ribeiro são sedutoras, pois convocam a geoestratégia para uma combinação criativa com a economia e o território, rompem com o atavismo português da pequena dimensão=inação e abrem perspetivas interessantes para além do espaço europeu, designadamente tendo em vista o lugar que podemos assumir numa potencial parceria atlântica Europa-Estados Unidos. Tenho mantido com Félix Ribeiro alguma troca de ideias e penso que foi nesse contexto que a CCP me convidou a estar presente no seminário para discutir o tema “O território é um fator de competitividade?”.
Quase intuitivamente tenho resistido à sedução dos cenários que Félix Ribeiro nos convoca a discutir, não porque sobre eles tenha dúvidas ou alimente interrogações, mas fundamentalmente por que a minha preocupação e o meu foco é a discussão das condições de transição do presente, envenenado por inércias passadas e pela miopia estratégica do ajustamento da dívida, para a concretização desse futuro imaginado por Félix Ribeiro nos seus quadrantes e transposições de quadrantes. Tenho algumas interrogações sobre a real valia estratégica das tendências reveladas por algumas experiências no terreno sobre as quais Félix Ribeiro constrói a plausibilidade dos cenários de combate ao empobrecimento a que nos querem submeter. Por exemplo, não partilho integralmente a interpretação que Félix Ribeiro dá ao projeto EMBRAER em Évora, porque não estou ainda convencido sobre o padrão remuneratório que tal projeto irá representar e sobre o impacto de relações interindustriais e indústria-serviços que ele irá impulsionar na economia portuguesa.
Mas estas minhas dúvidas não retiram um milímetro à ideia de que há Félix e há os outros em matéria de nos questionar sobre o futuro português, sobretudo do ponto de vista do que essas propostas interpelam os territórios para encontrar a geoestratégia do seu próprio desenvolvimento e fazer dessa geoestratégico um recurso a valorizar.

1 comentário:

  1. Parabéns pela criação deste Blog - Interesse Privado, Acção Pública. - Já agora, sugiro que se agende uma reunião para que eu possa ilustrar, em detalhes, a reunião que tive, pessoalmente, com o Primeiro ministro de Portugal, no âmbito de uma acção de interesse privado numa acção pública, ao apresentar o projeto - ENDOECONOMIA - https://www.academia.edu/4259082/ENDOECONOMIA_-_um_novo_conceito_

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