(Oliver
Munday, http://www.thedailybeast.com)
Estando por Bruxelas para cumprir variadas promessas pessoais, dificilmente poderia resistir à curiosidade de ir ouvir Mario Draghi ao vivo, prestando contas no último “Diálogo Monetário” (entre o Banco Central Europeu, que representava enquanto presidente, e o Comité ECON do Parlamento Europeu) da presente sessão legislativa. Três horas muito interessantes, a diversos e variados títulos!
Primeiro porque, como se diz na minha terra, o homem é um sinhor e possuidor de um raro savoir faire no seio deste tipo de bastidores negociais, dominando como poucos o “uma no cravo e outra na ferradura” que tanto ajuda a fazer as carreiras mais bem sucedidas nestes domínios (competência técnica à parte, que às vezes existe por acumulação, como é por demais visível no caso em presença). Dois ou três exemplos respigados deste hearing: a assunção de um posicionamento falsamente low profile, como quando agradecia os cumprimentos de alguns participantes (“nestes dias, os elogios são uma scarce commodity”) ou respondia que a questão que lhe era colocada não era simples “para um humilde banqueiro central e burocrata”; a preocupação de estabelecer pontes entre o Conselho e o Parlamento em matéria da atual discussão em torno do mecanismo de resolução única a definir no quadro da União Bancária, ainda que sem deixar de manifestar cuidadosamente algumas preferências na boa direção (evitar um “desalinhamento de responsabilidades” foi a forma elegante que utilizou para deixar um aviso crítico); uma declaração em resposta a um deputado do PPE no sentido de que os “países sob programa” beneficiaram no longo prazo com a presença da Troika (“claramente o que os países precisavam e ainda precisam”) e outra, mais adiante e para um interlocutor do PSE, no sentido de que “é sempre possível fazer melhor” e “eu disse que a situação está melhor, não disse que ela está boa”.
Depois porque a sua intervenção representou, no essencial, um balanço muito bem estruturado (apesar de excessivamente ortodoxo para o meu gosto) destes cinco anos de satisfactory record e effective monetary policy, de um Parlamento Europeu ativo e fortemente contributivo na direção de umas finanças públicas sólidas (referenciando o Six Pack, o Two Pack, o Fiscal Compact e a regulação financeira), em que lançou um programa de OMTs visto como controverso pelas forças mais à direita ou eurocéticas (registei aquele holandês que deixou no ar a interrogação sobre “quão ilimitada será a sua licença para imprimir”) mas a que se referiu como “inteiramente legal” (além de dependente do Tribunal Europeu de Justiça e não do Tribunal Constitucional alemão) e em que o pior terá sido ultrapassado (“o copo está, pelo menos, meio cheio”) através de uma renovação da confiança dos mercados na moeda única.
Finalmente porque, a despeito de fazer uso das máximas cautelas possíveis, Draghi não quis escamotear que há inúmeros desafios que ainda estão à sua e nossa frente exigindo a devida atenção e o imprescindível delivering, deles não tendo excluído uma sintomática menção à imperiosa necessidade de “preencher os gaps que permanecem na arquitetura da UEM”.
Em suma, e no que individualmente me toca, foi a uma excelente e insubstituível aula prática de “Integração Europeia Outono/Inverno 2014” que vantajosamente pude assistir...
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