segunda-feira, 31 de março de 2014

HOLLANDE AO FUNDO



Em contagem decrescente para as europeias, nas quais seria crucial formar-se no Parlamento Europeu uma maioria clara de denúncia dos rumos que a União Europeia está a tomar sobretudo como consequência da desastrada construção do euro, as frentes da social-democracia de pendor socialista abrem fissuras por todos os lados. Em Itália, um admirador de Blair, Matteo Renzi, é anunciado como uma espécie de salvador, aparentemente sem contributo refundador da matriz social-democrata. Na Alemanha, o SPD, envolvido numa coligação que os resultados eleitorais tornaram incontornável com o partido da senhora Merkel, não parece nos próximos tempos ser porta-voz de qualquer linha de rumo que anuncie uma refundação de pensamento, adaptado ao período de crescimento anémico que se avizinha. Na França, a rigidez e inabilidade política de Hollande, tão rapidamente evidenciadas após a festa da Bastilha das últimas eleições legislativas francesas, lançam o PS francês numa agonia e numa viragem claramente “pro-business” que a estrondosa derrota eleitoral autárquica de ontem irá precipitar com a chamada de Manuel Valls ao cargo de primeiro-ministro. Renzi, Gabriel e Valls não anunciam nada de refundador do pensamento social-democrata.
A derrota autárquica do PS francês é estrondosa, perdendo amplamente para a direita não Frente Nacional, para os ecologistas e esquerda radical como foi o caso da convivial Grenoble e permitindo à Frente Nacional ganhar uma nova expressão local, embora longe do que Marine Le Pen desejaria como rampa de lançamento. Esta perda é sobretudo chocante para uma força política que já produziu em tempos pensamento de ponta sobre descentralização e poder local e mostra duas coisas: a agonia da governação Hollande e a estagnação das práticas locais.
De toda esta hecatombe ficam duas compensações que se não tivessem ocorrido me incomodariam bastante. Paris e Avignon resistiram a primeira à direita não Frente Nacional e a segunda à própria Frente Nacional, esta última numa galvanização de última hora, ambas através da energia de duas mulheres.

Quanto à resposta política de Hollande à hecatombe eleitoral, o “governo de combate” que é associado à decisão de nomear Manuel Valls primeiro-ministro pode representar pela aproximação a um governo “pro-business” o espectro de uma total perda de equilíbrio entre as diferentes tendências que organizam presentemente o PS francês. E o eleitorado pode sempre pensar do modo seguinte: para termos um PS a governar à direita não será melhor regressar ao original?
 

Sem comentários:

Enviar um comentário