Em contagem decrescente para as europeias, nas
quais seria crucial formar-se no Parlamento Europeu uma maioria clara de denúncia
dos rumos que a União Europeia está a tomar sobretudo como consequência da
desastrada construção do euro, as frentes da social-democracia de pendor
socialista abrem fissuras por todos os lados. Em Itália, um admirador de Blair,
Matteo Renzi, é anunciado como uma espécie de salvador, aparentemente sem contributo
refundador da matriz social-democrata. Na Alemanha, o SPD, envolvido numa
coligação que os resultados eleitorais tornaram incontornável com o partido da
senhora Merkel, não parece nos próximos tempos ser porta-voz de qualquer linha
de rumo que anuncie uma refundação de pensamento, adaptado ao período de
crescimento anémico que se avizinha. Na França, a rigidez e inabilidade política
de Hollande, tão rapidamente evidenciadas após a festa da Bastilha das últimas
eleições legislativas francesas, lançam o PS francês numa agonia e numa viragem
claramente “pro-business” que a
estrondosa derrota eleitoral autárquica de ontem irá precipitar com a chamada
de Manuel Valls ao cargo de primeiro-ministro. Renzi, Gabriel e Valls não
anunciam nada de refundador do pensamento social-democrata.
A derrota autárquica do PS francês é estrondosa, perdendo
amplamente para a direita não Frente Nacional, para os ecologistas e esquerda
radical como foi o caso da convivial Grenoble e permitindo à Frente Nacional
ganhar uma nova expressão local, embora longe do que Marine Le Pen desejaria
como rampa de lançamento. Esta perda é sobretudo chocante para uma força política
que já produziu em tempos pensamento de ponta sobre descentralização e poder
local e mostra duas coisas: a agonia da governação Hollande e a estagnação das
práticas locais.
De toda esta hecatombe ficam duas compensações
que se não tivessem ocorrido me incomodariam bastante. Paris e Avignon
resistiram a primeira à direita não Frente Nacional e a segunda à própria
Frente Nacional, esta última numa galvanização de última hora, ambas através da
energia de duas mulheres.
Quanto à resposta política de Hollande à
hecatombe eleitoral, o “governo de combate” que é associado à decisão de nomear
Manuel Valls primeiro-ministro pode representar pela aproximação a um governo “pro-business” o espectro de uma total
perda de equilíbrio entre as diferentes tendências que organizam presentemente o
PS francês. E o eleitorado pode sempre pensar do modo seguinte: para termos um
PS a governar à direita não será melhor regressar ao original?
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