O debate realizado no irritantemente saltitante
horário do Quadratura do Círculo e o próprio comentário de hoje na SIC Notícias
de Francisco Louçã sobre o Manifesto dos 70 e demais que se sigam permitiram
destacar a fúria inaudita de algum jornalismo económico sobre o consenso gerado
pelo referido documento (vejam por exemplo a desabrida e deselegante crónica de Bruno Proença no Económico ou a patética Carta a uma geração errada de José Gomes Ferreira).
José Pacheco Pereira foi mesmo mais longe ao
sugerir que estamos hoje a assistir a uma luta entre interesses económicos e
outros legítimos interesses, uma espécie de uma nova luta de classes sem a
abordagem de Marx a inspirá-la, e que uma grande maioria dos jornalistas económicos
não são mais do que simples peões de brega de alguns desses interesses. Na
verdade, grande parte das cabeças do jornalismo económico português está alinhada
até às orelhas com as posições do governo e das terapias de ajustamento e por
essa via são também parte interessada no branqueamento em curso de que tudo
correu no melhor dos mundos, purificando a nossa economia dos mais maléficos
desvios públicos.
É bom que se saiba que muita desta gente que
conspurca as páginas dos jornais e nos enche de puro ruído em alguns canais da
televisão pública e privada só tem existência porque a iliteracia económica é
em Portugal galopante e o debate das ideias económicas atingiu o grau zero da
indigência. Muito poucos dos que escrevem nesta imprensa com a qual tenho muita
dificuldade em gastar um cêntimo, sintomático em alguém como eu que devora
jornais e revistas, são portadores de um mínimo de formação económica. Mas para
agradar a seus amos não é necessário ter lido sequer um manual dos mais básicos,
muito menos ter estaleca para elevar o debate económico em Portugal.
Perante a degradação deste ambiente, a máxima de
Bradford DeLong martela-me permanentemente o espírito: “Oh! Why can’t we have a better press corps”.
Sem comentários:
Enviar um comentário