sexta-feira, 14 de março de 2014

JORNALISMO ECONÓMICO



O debate realizado no irritantemente saltitante horário do Quadratura do Círculo e o próprio comentário de hoje na SIC Notícias de Francisco Louçã sobre o Manifesto dos 70 e demais que se sigam permitiram destacar a fúria inaudita de algum jornalismo económico sobre o consenso gerado pelo referido documento (vejam por exemplo a desabrida e deselegante crónica de Bruno Proença no Económico ou a patética Carta a uma geração errada de José Gomes Ferreira).
José Pacheco Pereira foi mesmo mais longe ao sugerir que estamos hoje a assistir a uma luta entre interesses económicos e outros legítimos interesses, uma espécie de uma nova luta de classes sem a abordagem de Marx a inspirá-la, e que uma grande maioria dos jornalistas económicos não são mais do que simples peões de brega de alguns desses interesses. Na verdade, grande parte das cabeças do jornalismo económico português está alinhada até às orelhas com as posições do governo e das terapias de ajustamento e por essa via são também parte interessada no branqueamento em curso de que tudo correu no melhor dos mundos, purificando a nossa economia dos mais maléficos desvios públicos.
É bom que se saiba que muita desta gente que conspurca as páginas dos jornais e nos enche de puro ruído em alguns canais da televisão pública e privada só tem existência porque a iliteracia económica é em Portugal galopante e o debate das ideias económicas atingiu o grau zero da indigência. Muito poucos dos que escrevem nesta imprensa com a qual tenho muita dificuldade em gastar um cêntimo, sintomático em alguém como eu que devora jornais e revistas, são portadores de um mínimo de formação económica. Mas para agradar a seus amos não é necessário ter lido sequer um manual dos mais básicos, muito menos ter estaleca para elevar o debate económico em Portugal.
Perante a degradação deste ambiente, a máxima de Bradford DeLong martela-me permanentemente o espírito: “Oh! Why can’t we have a better press corps”.

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