Eduardo Paz Ferreira (EPF) esteve ontem no Porto a apresentar, em dois atos, o calhamaço de um quilo e oitocentas gramas que idealizou e coordenou sobre a austeridade e que conta com 82 contributos multidisciplinares – vários deles assinados por figuras de grande notoriedade nacional e alguns de inquestionável qualidade – ao longo de quase 1500 páginas. Primeiro, mais em torno do jurídico, do político e do social, esteve com Cunha Rodrigues e Artur Castro Neves na Fnac de Santa Catarina; depois, mais em torno da economia e da Europa, esteve com Álvaro Nascimento e Elisa Ferreira na Fnac do Norte Shopping.
Neste segundo debate, e para além de uma interessante e algo surpreendente troca de galhardetes entre o “mata” da Elisa e o “cura” do Álvaro, foi enriquecedor ouvir EPF discorrendo sobre a matriz mais democrata-cristã do que social-democrata da Comunidade Europeia do pós-guerra, sobre “a honra perdida da senhora Lagarde”, sobre a “assustadora promiscuidade entre o poder político e o poder financeiro”, sobre a política de austeridade enquanto expressão última de uma sociedade ao serviço da acumulação de riqueza e sobre a recusa do pensamento único. Não dispensando, ainda, um oportuníssimo recurso à poesia e aos poetas – ilustro com Hélia Correia e a alma que nos estão a matar: “O grande golpe é o que se dirige à alma. O meu sentido de ‘alma’ é o que vem da anima latina, claro está, a instilação da vida que nos torna ativos e pensantes. Qualquer torcionário aprende cedo que a alma não se tira com a faca mas com manobras de desorientação e de abatimento. O sopro anímico extingue-se depressa, bem mais depressa que o bater do coração, e sem sujar. ‘Desanimados’: eis a nossa condição. Bem mais difícil de remediar do que a de meros ‘oprimidos’, pela diferença que existe entre ter ânimo e não ter.”
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