quinta-feira, 18 de abril de 2013

A DIFÍCIL RESPOSTA DO PS



O governo continua a brincar ao alargamento dos compromissos políticos. Umas vezes rejeita e desvaloriza aproximações com o PS, noutras faz o papel de arrependido e preocupado com o interesse nacional e procura envolvê-lo em decisões porventura mais estruturadas e de longo prazo de consolidação sustentada de contas públicas. Mas, nestes últimos momentos, quase sempre precipita o não acordo, definindo à partida condições que não prefiguram uma negociação real, mas antes a procura de uma muleta para o seu isolamento, apenas minimizado pelos amigos do costume na cena internacional, que precisam da experiência portuguesa para justificarem a sua ineficaz gestão da instabilidade europeia.
Desta vez, já com a evolução da dívida pública a atingir em Dezembro de 2012 123,6% do PIB (Boletim Estatístico do Banco de Portugal, Abril 2013 e gráfico acima) e revelado que afinal sempre é possível (não se sabe ainda como) cortar nas tais “gorduras” do Estado (porque é que não se começou por aí?), o primeiro-ministro procura entalar o PS, acenando-lhe com uma agenda para o crescimento e emprego. E aqui compreendo perfeitamente que António José Seguro esperaria uma maior margem de manobra na preparação do acesso do PS à governação. Não queria estar na sua pele. De facto, uma decisão desta natureza enfrenta a irredutível indeterminação de produzir uma agenda de crescimento e emprego que o PS possa capitalizar ou, pelo contrário, de associar-se a algo de insípido que mostre por antecipação que o problema do crescimento e do emprego se joga em agendas de alcance mais vasto do que o da economia portuguesa. A experiência francesa de Hollande começou com as mesmas expectativas promissoras e tem-se esgotado, seja nas contradições do executivo reunido por Hollande (contas na Suiça e outros fenómenos reveladores do que a governação socialista é capaz), seja nas contradições das próprias medidas avançadas. Tendo utilizado a aprovação do pacto orçamental como instrumento errado de visibilização da pretensa credibilidade de um futuro governo socialista face aos mercados internacionais, AJS sabe que corre o risco de evidenciar antes de uma eventual viragem eleitoral que não é portador de uma solução credível para inverter o estado das coisas sem uma gestão diferente da crise a nível europeu. Por outro lado, o parceiro de negociação não é de facto de confiança e custa imaginar que apenas a entrada no governo de gente pelo menos mais arejada e letrada seja suficiente para fazer transformar Passos Coelho em personalidade cooperante. Mas, por outro lado, ficar à margem desta aparente reconsideração do governo (vá la saber-se inspirada por que razão ou pressão) coloca AJS naquela difícil posição de contrariar o estatuto de homem de Estado que procura fazer passar. As posições passadas do governo podem favorecer a rejeição do envolvimento do PS, agravadas agora pelo facto de não ser visível posição integrada da maioria sobre o assunto. Continua a ser muito estranho o aparente isolamento a que o PSD do governo vota o seu parceiro de coligação, deixando-o a falar diretamente para o país em declarações como as de Pires de Lima ou João de Almeida.
Entretanto, tal como o Freire de Sousa já aqui o assinalou, a publicação do livro de João Ferreira do Amaral sobre o argumento da saída do euro parece ter contribuído surpreendentemente não para reforçar essa hipótese mas antes para reforçar os que pensam que só, tal como a história o evidencia, um acordo de reestruturação da dívida entre credores e o devedor Portugal poderá assegurar aqueles uma amortização mais certa de pelo menos uma parte do capital. Dizem-me, não pude confirmá-lo, que a prestação do meu amigo Jorge Bateira no Prós e Contras nada contribuiu para reforçar a posição de Ferreira do Amaral. A confiança desmedida que os defensores da rotura com o euro manifestam em relação à desvalorização competitiva continua a causar-me estranheza (teremos lido as mesmas referências?), para além de, não estando em causa a coerência de João Ferreira do Amaral, continuar a ter grandes dúvidas sobre as condições de uma retirada estratégica, preparando as condições para o choque.
Continuo a pensar, inspirado na história e na grandeza intelectual de Keynes, sem comparação com estes títeres de pacotilha que procuram hoje consertar a arquitetura do sistema euro, que os europeus desistiram demasiado cedo de encontrar uma formulação de sistema monetário que preservasse as moedas nacionais e apostasse num sistema de moeda comum apenas para transações internacionais. Ao recusar essa alternativa, o sistema encontrado ora encontrará as vicissitudes da sua imperfeição, ora deparará com as dificuldades óbvias de caminhar para a solução mais radical de desaparecimento da soberania nacional. O que temos hoje nem é carne, nem peixe, mas antes um aglomerado que não se recomenda em alimentação saudável.

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