segunda-feira, 22 de abril de 2013

MALDITA ENGENHARIA FINANCEIRA

(Infografia do Jornal Público)


A magnífica peça de Raquel Almeida Correia no Público de hoje não foi oficialmente desmentida pelo que parte da remodelação algo apressada que ocorreu hoje perante um Presidente da República cada vez mais embasbacado terá alegadamente que ver com as operações de SWAP aprovadas por dois dos secretários de Estado cessantes, embora noutras e anteriores funções, Juvenal da Silva Peneda e Braga Lino. O rosto tenso e grave, pelo menos de Juvenal Silva Peneda, na tomada de posse que acaba de terminar pode ser um indicador dessa realidade.
De que é que estamos a falar? No fundo de operações financeiras de cobertura de risco de eventuais subidas da taxa de juro ao longo do período de maturidade de algumas empresas públicas que foram realizadas ainda em clima de ameaças reais de continuidade de subida de taxas. Simplesmente, a situação de tendências altistas da taxa de juro inverteu-se e, nas condições em que o negócio é assumido pela banca, quanto mais a situação se inverte com baixas de taxa de juro permanentes mais o negócio emerge como ruinoso para o cliente, neste caso as empresas públicas. O rombo que tais acertos requerem para serem consertados é de magnitude bem superior à incomodidade com que dramaticamente o governo acolheu a decisão do Tribunal Constitucional. Nestas coisas, o Norte parece engalinhado e tais operações no Metro do Porto, juntamente com as do Metro de Lisboa são as mais sonantes gerando perdas estimadas em quase o dobro dos cortes do Tribunal Constitucional que agora funciona como uma espécie de uma nova unidade de conta para quantificar desvarios e rombos financeiros. Como na operação do Metro do Porto estão em jogo assinaturas precisamente de Juvenal Peneda e de Braga Lino, lá se vão de volta às suas casinhas os dois secretários de Estado, vindos ou com experiência de trabalho no Norte.
Mas a peça do Público vai mais longe e fala de outros membros do governo com práticas similares (e é legítimo dizê-lo correntes à época em função da situação então vigente dos mercados financeiros) e não são nomes quaisquer: Maria Luís Albuquerque, secretária de Estado do Tesouro e Marco António Costa, secretário de Estado da Segurança Social.
Moral da história: as sucessivas remodelações governativas tendem a apagar o efeito de expectativa e de graça que algumas das escolhas de Passos Coelho podem ter determinado, sobretudo a de Poiares Maduro e mesmo a tomada de posse do experiente Manuel Castro Almeida para secretário de Estado do Desenvolvimento Regional (leia-se em termos práticos QREN). Mas a moral da história é ainda outra. A magnitude dos rombos que está aqui em causa evidencia bem quão ruinosa é a prática de fazer chegar às contas públicas a engenhosidade sofisticada da engenharia financeira. As PPP já o tinham demonstrado. Os SWAP de cobertura de riscos de tendência altista de taxas de juro demonstram-no de novo com clareza. Estamos, assim, a amargar o fel de efeitos colaterais de um movimento conhecido pelo “New Public Management” que procurou abordar a gestão pública segundo as mesmas tendências da gestão privada, sobretudo no âmbito do processo de sofisticação (inacessível a um mero consumidor de produtos financeiros de risco nulo) a que a liberalização e desregulação financeiras nos conduziram.
Descobriu-se por obra e graça da tendência permanente para a baixa das taxas de juro (na prática negada por aqueles que teimam em não endividar-se hoje com receio da sua subida a médio-longo prazo) que há agora uma nova relação de incompatibilidade para o exercício de funções ministeriais ou de secretário de Estado – ter assinado operações de SWAP em matéria de utilização de fundos públicos.
O processo evoluirá sob os contornos esperados. Não creio que se possa demonstrar alguma prova de dolo intencional por parte dos responsáveis por estas operações, talvez na pior das hipóteses de negociação menos rigorosa com a banca (nacional ou internacional) que promoveu tais operações. O que fica para mim de tudo isto é a clara evidência dos erros (esses sim graves e recomendando o arrepiar de caminho nesta matéria) de deixar a sofisticação financeira penetrar na gestão pública e sobretudo a necessidade imperiosa de reconsiderar todo o processo de financiamento de investimentos públicos. Afinal sempre tivemos uma crise financeira de grandes proporções que tem lançado a economia europeia numa das suas mais profundas recessões. E, apesar de alguns se esforçarem por regressar ao universo do primado do financeiro como se nada se tivesse passado, convém pensar diferente.
Veremos que dramatização tentará o governo desta vez promover para remediar o problema!

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