sábado, 6 de abril de 2013

MAS QUE INÍCIO DE NOITE …



Ontem, quando viajava no Alfa de Lisboa para o Porto e se aguardava o pronunciamento dos homens e mulheres de toga preta, o Tribunal Constitucional, pensava eu com os meus botões que, aposentado da universidade, poderia ver melhorado o meu rendimento disponível no âmbito de alguns dos cenários de decisão que se anunciavam entre os analistas. Não suspeitava que teríamos uma noite tão intensa, densa de significado, de que a imagem dos homens e mulheres de preto constitui uma excelente ilustração. Quanto à questão mais prosaica parece que recuperei apenas 90% do subsídio de férias, já que a esperada anulação da contribuição extraordinária de solidariedade exigida às pensões foi afinal declarada constitucional. De mal o menos, mas isso não é de facto o mais importante. A noite foi tensa e agitada e, não sei se por café a mais ou pela própria tensão da decisão do Tribunal, a verdade é que não dormi bem como é usual.
O ruído que se produziu sobre a decisão em toda a noite de debate político foi insuportável. A televisão tal como está produz mais ruído do que esclarecimento e imagino a perturbação de um cidadão médio a ser bombardeado com todo aquele ruído. É verdade que não é por acaso que tais discussões acontecem em canais de cabo, reduzindo brutalmente a sua audiência, mas mesmo assim o ruído chega a ser insuportável. Tudo porque era humanamente impossível (mesmo ao comentador Marcelo que terá tempo até amanhã para o fazer) ler um denso acórdão que, no PDF que extraí do site do Tribunal Constitucional, tem a módica extensão de 181 páginas, de leitura nada fácil. O que significa que toda aquela gente que se foi pronunciando ao longo da noite na putativa figura de especialista não o foi na prática, pois os reais argumentos do Tribunal Constitucional não podiam de modo algum estar presentes na discussão já que ninguém humanamente os poderia ter conhecido em toda a extensão da leitura. Pela primeira leitura que realizei o documento merece análise profunda, pois constitui um referencial incontornável para se analisar as margens de manobra do ajustamento orçamental dos próximos tempos. E valerá por isso a pena voltar neste blogue ao assunto. É sobretudo muito interessante contrapor a argumentação do Tribunal para fundamentar a inconstitucionalidade da retirada de 90% do subsídio de férias aos funcionários e pensionistas públicos e a constitucionalidade da contribuição extraordinária de solidariedade sobre as pensões acima de 1.350 euros.
Mas o que fica também da noite tensa e agitada é a revelação da mais perfeita e acabada impreparação da governação atual. Ricardo Costa escreve hoje no Expresso que o governo deveria substituir e já os seus conselheiros constitucionais. Virão eles de que universidade? A patética declaração de Teresa Leal Coelho é emblemática da decomposição (e não apenas anímica) que grassa pelas hostes sobretudo do PSD. Mas não apenas por essas hostes. O tão equilibrado Paulo Trigo Pereira era a imagem ontem no Expresso da Meia Noite do intelectual orgânico perdido e desorientado.
O dia de hoje permitirá alguma reflexão adicional e o Conselho de Ministros extraordinário das 15 horas exige atenção.
Por agora e com o acórdão do TC já no IPad, o tempo está para apanhar algum sol, passar de boga a mamífero e acumular algum já que o domingo se avizinha de novo a exigir guelras e barbatanas.

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