Tal como camelos que fazem as suas reservas de água,
aí estamos em busca de bossas que sejam capazes de armazenar sol em quantidade
bastante, que dê para empacotar de vez as guelras que já iam crescendo e nos
anime um pouco de toda esta depressão em que nos teimam fazer mergulhar.
Uma manhã em terras da Afurada. Primeiro, café no
interior do microcosmos tão típico do lugar, onde a linguagem cantarola o que não
se ouve em mais nenhum lugar. Depois, a visita ao Centro Interpretativo do
Património da Afurada para o deleite pessoal de ver o trabalho museológico da
equipa da Quaternaire Portugal (bravo Zé Portugal) e o resultado da sua
coordenação de uma vasta equipa que honra o local e que espero ver renovado com
mais investigação, espólio e participação local. Gosto requintado, estética de
sobriedade e de perfeita identificação com a singularidade do local, poesia e
literatura combinadas numa homenagem ímpar a gente única. Finalmente, uma boa
caminhada para acumular sol que baste. Animação ímpar. Gente de todas as idades
a desabrochar para um sol que finalmente nos aquece e seca a humidade já
entranhada na pele. Coexistência de várias dinâmicas, entre as quais uma
caminhada canina, bastante participada e colorida, procurando dar exercício físico
a alguns belos exemplares caninos já tolhidos pela exiguidade dos apartamentos
e pela dependência da boa vontade dos donos em partilhar com os ditos algum
exercício. E de facto reparei que os exemplares caninos vinham já bastante mais
cansados do que os seus donos e donas, invertendo um pouco a natureza.
E não deixei de reparar no contraponto simbólico
entre a construção do lado de cá (passeio flúvio-marítimo, infraestruturação,
marina, Centro Interpretativo do Património da Afurada, Centro de Observação
das Aves a cargo do Parque Biológico de Gaia já com 30 anos de vida, futuro
mercado, alguns exageros de desmatação, adesão massiva de população não
necessariamente residente em V.N. Gaia) com a destruição/demolição do lado de lá.
É que, por ironia da geografia, mesmo em frente destacam-se os despojos da
demolição da segunda torre do Aleixo. Não quero deixar-me ir pelo populismo localista
e não morro de amores pelo obreirismo para o endividamento de Filipe Meneses. Mas,
dada a pouca visibilidade do endividamento municipal, alguém poderá pensar que
Meneses constrói e Rio destrói demolindo. Rui Moreira que se cuide com a
invocação do seu patrono.
Com esta dose de sol acumulado, já dá para salivar o sabor de um robalinho ao forno, acompanhado de um bom Alvarinho, Soalheiro, claro.
Sem comentários:
Enviar um comentário