domingo, 14 de abril de 2013

AFURADA E SOL



Tal como camelos que fazem as suas reservas de água, aí estamos em busca de bossas que sejam capazes de armazenar sol em quantidade bastante, que dê para empacotar de vez as guelras que já iam crescendo e nos anime um pouco de toda esta depressão em que nos teimam fazer mergulhar.
Uma manhã em terras da Afurada. Primeiro, café no interior do microcosmos tão típico do lugar, onde a linguagem cantarola o que não se ouve em mais nenhum lugar. Depois, a visita ao Centro Interpretativo do Património da Afurada para o deleite pessoal de ver o trabalho museológico da equipa da Quaternaire Portugal (bravo Zé Portugal) e o resultado da sua coordenação de uma vasta equipa que honra o local e que espero ver renovado com mais investigação, espólio e participação local. Gosto requintado, estética de sobriedade e de perfeita identificação com a singularidade do local, poesia e literatura combinadas numa homenagem ímpar a gente única. Finalmente, uma boa caminhada para acumular sol que baste. Animação ímpar. Gente de todas as idades a desabrochar para um sol que finalmente nos aquece e seca a humidade já entranhada na pele. Coexistência de várias dinâmicas, entre as quais uma caminhada canina, bastante participada e colorida, procurando dar exercício físico a alguns belos exemplares caninos já tolhidos pela exiguidade dos apartamentos e pela dependência da boa vontade dos donos em partilhar com os ditos algum exercício. E de facto reparei que os exemplares caninos vinham já bastante mais cansados do que os seus donos e donas, invertendo um pouco a natureza.
E não deixei de reparar no contraponto simbólico entre a construção do lado de cá (passeio flúvio-marítimo, infraestruturação, marina, Centro Interpretativo do Património da Afurada, Centro de Observação das Aves a cargo do Parque Biológico de Gaia já com 30 anos de vida, futuro mercado, alguns exageros de desmatação, adesão massiva de população não necessariamente residente em V.N. Gaia) com a destruição/demolição do lado de lá. É que, por ironia da geografia, mesmo em frente destacam-se os despojos da demolição da segunda torre do Aleixo. Não quero deixar-me ir pelo populismo localista e não morro de amores pelo obreirismo para o endividamento de Filipe Meneses. Mas, dada a pouca visibilidade do endividamento municipal, alguém poderá pensar que Meneses constrói e Rio destrói demolindo. Rui Moreira que se cuide com a invocação do seu patrono.
Com esta dose de sol acumulado, já dá para salivar o sabor de um robalinho ao forno, acompanhado de um bom Alvarinho, Soalheiro, claro.

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