A crónica de Wolfgang Mϋnchau no Financial Times deste domingo ficará na história das perceções de que o edifício do euro está minado
desde a origem por inconsistências insolúveis, sobretudo porque o analista é o
primeiro no âmbito das chamadas críticas internas a denunciar o que poderei
chamar de pecado original.
O que denuncia então Mϋnchau? Sem pretender
ganhar créditos que não são meus, mas que são de um pequeno artigo que aqui
citei há algum tempo do meu amigo angolano José Cerqueira, que já o havia
denunciado, o analista do Financial Times afirma simplesmente isto: “The euro
is not worth the same across the region – Spain and Germany have different
currencies” (O euro não vale o mesmo em toda a zona – a Espanha e a Alemanha têm
diferentes moedas). Mais adiante, o analista afirma: “Isto leva-me a concluir
que a unidade de conta não é realmente a mesma na zona euro – que a Espanha e a
Alemanha têm um diferente euro. Esta é também a razão pela qual acredito que os
europeus do sul têm um motivo racional para deslocar as suas poupanças para os
bancos do norte –porque essa será a única maneira de preservar o valor dos seus
euros no longo prazo”.
De facto, tal como José Cerqueira o denunciava,
os euros espanhóis e alemães não são totalmente convertíveis, tal como os dólares
do Estado da Califórnia e de Nova Iorque o são. Essa é a ilusão da moeda única,
que não é única. O que está a descortinar-se é simplesmente a inconsistência de
um sistema inacabado, que mais tarde ou mais cedo viria ao de cima e os alemães
continuam a recusar a única possibilidade de o compor, um banco central
verdadeiramente central.
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