Um post de Joe Weisenthal no “Business Insider”, e o gráfico da “Bloomberg” que o acompanha (comportamento recente dos yields das obrigações francesas a 10 anos, acima), vieram alertar-me para uma dupla incongruência que carateriza a atual situação francesa no contexto da crise europeia.
Primeira incongruência: face à caótica situação do país em todos os planos – crescimento zero, desemprego, défices gémeos, endividamento, mínimos de popularidade do presidente e governo, corrupção e escândalos vários (a presença em paraísos fiscais do ministro Cahuzac e do tesoureiro de campanha Augier serão apenas uma ponta do véu?),… – provoca estranheza a persistente e acentuada quebra que se vem verificando nos seus custos de financiamento soberano (que acabam de atingir 1,72%!).
A explicação aventada por Weisenthal é a de que existe a firme perceção de que o BCE nunca permitirá (would step in a big way long, leia-se será emprestador de última instância até aos limites necessários) o desencadeamento de uma verdadeira crise da dívida soberana em França, o que contribui para afastar preocupações quanto ao crédito do país e para o tornar num grande refúgio de capitais (big core bond market) perante a tempestade que assola a Europa. Por outras palavras: a França revelar-se-ia como um dos maiores sustentáculos remanescentes no sentido de ser assegurada a sobrevivência do Euro.
Segunda incongruência: mas se assim for, ou seja, se a França estiver efetivamente a beneficiar de um tal estatuto de larga independência entre os seus fundamentais (dívida e défices) e os seus custos de financiamento, provoca estranheza que Hollande mantenha uma conivência tão estreita com a ortodoxia “austeritarista” e não assuma a sua própria libertação do garrote decorrente dessas estúpidas metas.
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