A Páscoa já lá vai, embora a Cidade esteja a meio
gás.
Tempo para sistematizar elementos sobre todas as
incidências da crise europeia, da incompetência das lideranças atuais e da
fragilidade do pensamento económico europeu que colocaria Keynes com os cabelos
em pé.
Do FinancialTimes retiro uma amêndoa amarga para Draghi e as suas boas (?) intenções. O
cruzamento de um indicador Goldman Sachs sobre a divergência dos custos do crédito
entre as economias europeias e dos diferenciais entre os yields da dívida
espanhola e italiana e da alemã mostra à evidência que a União Monetária está em
avançada fragmentação. Apesar do aparente murro na mesa da confiança dos
investidores e dos esforços da facilitação monetária (quantitative easing), a verdade é que o crédito não chega às PME
fortemente dependentes do crédito bancário nas economias do sul e o que chega é
a taxas bastante mais elevadas. Os dados a que o FT se refere não integram
ainda o efeito Chipre que terá agravado a situação. A segmentação dos mercados é
cada vez mais evidente, negando as boas intenções. E agora Mário? Uma amêndoa
amarga que não será fácil deglutir.
Mas continua a haver gente lúcida, mas cada vez
mais do lado de lá do Atlântico. Olivier Blanchard, economista chefe do FMI, citado no Wall Street Journal, a propósito
de um fórum na London School of Economics
em honra do cessante Governador de Inglaterra, Sir Mervyn King, apresenta cinco
lições a tirar da grande crise financeira:
- Humildade: afinal as crises não são uma coisa do passado, a turbulência existe!;
- O sistema financeiro interessa: as suas distorções e pequenos choques contam e de que maneira!
- O mundo está sujeito a contágio e a exposição é muito elevada;
- Sabemos ainda muito pouco sobre a supervisão macroprudencial do sistema;
- A independência do Banco Central não foi pensada para o que é suposto hoje ser obrigado a fazer.
Bom senso do lado de lá do Atlântico, quando por
cá parece que ninguém entende o que é o “learning
by error”.
Ainda no FT, Roger Farmer (Universidade da Califórnia),
que se confessa um keynesiano herético, coloca o problema deste modo pragmático:
parece indiscutível que é necessário incrementar a procura, é por isso necessário
discutir se a relação investimento público- promoção do emprego é satisfatória
ou se há outras vias mais eficazes de estimular a procura que não impliquem a
rigidez futura do peso (que não do papel, direi eu) do Estado.
O bom senso não é do lado de lá do Atlântico um
bem escasso. Por cá, é cada vez mais raro.
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