sábado, 20 de abril de 2013

FADO TRIPEIRO


Começo por me limitar à observação de resultados, três destes dias: (i) o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana reprovou as contas de 2012 da Sociedade de Reabilitação Urbana do Porto; (ii) a 83ª Feira do Livro não vai ter lugar em 2013; (iii) foi inaugurado um novo equipamento cultural no edifício AXA da Avenida dos Aliados.

Passo agora aos números: (i) o IHRU refere que o projeto das Cardosas deu 7,6 milhões de euros de prejuízo (embora Rio só confesse cerca de 6); (ii) a autarquia portuense decidiu não renovar o apoio anual de 75 mil euros (que vigorara entre 2009 e 2012) à Associação Portuguesa de Editores e Livreiros; (iii) o espaço "1ª Avenida" resulta de um investimento superior a 1 milhão de euros (sendo 20% da CMP).

Prossigo com as declarações, desencontradas em duas circunstâncias, dos principais agentes envolvidos: (i) enquanto Vítor Reis, presidente do IRHU, afirma que “votou contra porque, caso fossem aprovadas [as contas], estaríamos perante uma situação de total falência da Sociedade de Reabilitação Urbana”, que “os custos de funcionamento e o caso concreto desta operação das Cardosas, e do seu prejuízo, é que estão completamente a corroer a sustentabilidade financeira da operação” e que “para além dos 6 milhões de euros do capital inicial da sociedade, a Porto Vivo já acumulou, com os resultados de 2012, mais de 21 milhões de euros de prejuízos”, Rio garante que os 5,5 milhões de euros gastos nas Cardosas arrastaram “mais de 90 milhões de euros de investimento privado”; (ii) enquanto a APEL alega falta de financiamento e de condições financeiras para a realização da Feira do Livro, a vereadora do Conhecimento (?) responsabiliza-a pelo cancelamento de “uma atividade comercial desenvolvida por empresas privadas”; (iii) o caso dos “4500 m2 dedicados às artes” é de avaliação bem mais pacífica e louvável, sobretudo quanto à pretensão de aproximação ao conceito de “condomínio cultural” dos sete andares do edifício AXA (de baixo para cima: oferta generalista, com um bar e uma livraria em que se realizarão palestras, concertos e oficinas; oferta institucional, com exposições itinerantes de parceiros institucionais; conceitos emergentes e jovens criadores e empreendedores da cidade; espaço multiusos dirigido ao meio cultural e associativo e a uma utilização esporádica ou temporária; formação, através da companhia portuense Balleteatro; residências artísticas itinerantes nos dois pisos superiores).

Enquanto isto, Rio resolve entrar na pré-campanha eleitoral para “evitar que as pessoas sejam enganadas pelos candidatos” e recomenda ao seu sucessor um rumo estratégico de continuidade com algumas variações (“mantinha as mesmas prioridades, só com pequenas diferenças: a percentagem de esforço baixava de um lado e aumentava do outro”), enfatizando nelas a prioridade da atração de investimento e a aposta na reabilitação e no turismo (“onde eu aumentava era fundamentalmente ao nível da economia”). Já o que este discurso possa ter realmente a ver com aquela prática, e com o modo como esta se concatena entre si, parece ser matéria só inteligível por iluminados…

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