A vida política portuguesa transforma-se
aceleradamente numa torrente de absurdos, de indiferença, de desagregação, em
direção a um fim que não se recomenda.
Em público, ou seja, numa entrevista para um jornal (Diário de Notícias) e para uma rádio (TSF), um ministro do governo da
República, Álvaro Santos Pereira, declara explicitamente que a demissão do seu
secretário de Estado Henrique Gomes fora festejada com champanhe pelo lobby energético. Esta declaração sucede
aliás a uma outra revelação de há uns tempos do próprio secretário de Estado
segundo a qual o relatório entregue ao primeiro-ministro sobre o corte de
rendas no setor elétrico estava uma hora depois no gabinete do Presidente da
EDP. E nada se passa.
No congresso do PS, um renovado Seguro motiva o
PS com um esboço de programa eleitoral a dois anos de distância, uma de duas,
ou com uma certeza inabalável na dinâmica dessa motivação para resistir tão
longo período, ou apostando no pressentimento (com que informação?) de
rompimento da maioria. Como dizia Marcelo, entrar no congresso como líder da
oposição e terminá-lo como candidato a primeiro-ministro para umas eleições no
tempo longo é obra e talvez isso explique o discurso de improviso. Estaria o
processo preparado desde o início ou entre sexta e domingo terá havido alguma
informação-chave para explicar tal confiança?
O Conselho de Ministros está na rua, tal é a
transparência com que chegaram aos jornalistas as notícias sobre a rutura no
seio do governo entre Gaspar e os que se opuseram. O primeiro-ministro parece
um oficial de diligências sem qualquer ideia de rumo político, capaz de impor
alguma ordem em todo o processo.
E, perante tudo isto, Cavaco o desajeitado vem em
declaração avulsa procurar explicar que o que pretendia era avisar para a necessidade
de se começar a preparar opções nacionais para as dificuldades do pós Troika. E
para espanto de todos coloca-se de fora com aquele comentário rasca de que não
digam depois que não avisei, como se fosse um espectador e não o garante do
funcionamento das instituições. O presidente começa a encarnar o que de mais atávico
existe na sociedade portuguesa, colocando-se ele próprio no centro da
instabilidade.
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