A crónica de Wolfgang Mϋnchau que ontem comentava
parte de um relatório do BCE, mais propriamente de um inquérito à riqueza líquida
das famílias europeias que, indevidamente interpretado, pode transformar-se em mais
uma acha para a fogueira da opinião pública alemã e de outras economias do
norte relativamente às do sul.
Os dados em causa merecem análise mais profunda
mas, numa primeira leitura não podem deixar de ser interpretados como uma acha
para essa fogueira e uma acha com grande poder de combustão. A média e a
mediana (sobretudo esta última) da riqueza líquida das famílias alemãs surge
nos dados do inquérito do BCE substancialmente inferiores aos das famílias
cipriotas, italianas, espanholas e até portuguesas. O valor de confronto que
circulou pelos jornais económicos internacionais foi sobretudo o da comparação
entre a mediana da riqueza líquida das famílias alemãs (51.4 milhares de euros)
e a das famílias cipriotas (266.9 milhares de euros), com erros padrão bastante
diferentes, substancialmente maiores o de Chipre. Como alguém dizia, imagine-se
a publicação destes números em pleno resgate da banca cipriota.
Em termos de mediana do rendimento bruto, a
diferença esbate-se (22.000 euros na Alemanha contra 32.000 no Chipre).
Não podendo ignorar-se que se trata de dados
autodeclarados pelas famílias e que o conceito de riqueza líquida é
influenciado por muitos factores, entre os quais o predomínio de habitação própria
e arrendada (os valores de riqueza do imobiliário pós rebentar da bolha é, por
exemplo, significativamente menor), e que o próprio relatório do BCE assinala a
não comparabilidade dos dados de Chipre, os números ilustram o contencioso explosivo
que grassa hoje pelas opiniões públicas da zona euro. Contencioso vulnerável a
qualquer fator de combustão mais incautamente lançado para a fogueira. Voltaremos
ao assunto.
Sobre o assunto, sugiro as análises de Luís Salgado de Matos, as únicas que vi por cá e que coloca questões com interesse:
ResponderEliminarhttp://oeconomistaport.wordpress.com/2013/04/12/o-banco-central-europeu-descobriu-que-a-alemanha-e-o-pais-mais-pobre-da-europa/
http://oeconomistaport.wordpress.com/2013/04/16/familias-alemas-as-mais-pobres-da-uniao-europeia-parte-ii/
Quanto aos efeitos na Alemanha, por exemplo
http://www.presseurop.eu/pt/content/article/3663181-os-pobres-alemaes-cuidam-mal-da-carteira
e, este, que é mais preocupante, uma vez que cita as opiniões dos "sábios" que aconselham a Merkel.