quarta-feira, 17 de abril de 2013

ACHAS PARA A FOGUEIRA



A crónica de Wolfgang Mϋnchau que ontem comentava parte de um relatório do BCE, mais propriamente de um inquérito à riqueza líquida das famílias europeias que, indevidamente interpretado, pode transformar-se em mais uma acha para a fogueira da opinião pública alemã e de outras economias do norte relativamente às do sul.
Os dados em causa merecem análise mais profunda mas, numa primeira leitura não podem deixar de ser interpretados como uma acha para essa fogueira e uma acha com grande poder de combustão. A média e a mediana (sobretudo esta última) da riqueza líquida das famílias alemãs surge nos dados do inquérito do BCE substancialmente inferiores aos das famílias cipriotas, italianas, espanholas e até portuguesas. O valor de confronto que circulou pelos jornais económicos internacionais foi sobretudo o da comparação entre a mediana da riqueza líquida das famílias alemãs (51.4 milhares de euros) e a das famílias cipriotas (266.9 milhares de euros), com erros padrão bastante diferentes, substancialmente maiores o de Chipre. Como alguém dizia, imagine-se a publicação destes números em pleno resgate da banca cipriota.
Em termos de mediana do rendimento bruto, a diferença esbate-se (22.000 euros na Alemanha contra 32.000 no Chipre).
Não podendo ignorar-se que se trata de dados autodeclarados pelas famílias e que o conceito de riqueza líquida é influenciado por muitos factores, entre os quais o predomínio de habitação própria e arrendada (os valores de riqueza do imobiliário pós rebentar da bolha é, por exemplo, significativamente menor), e que o próprio relatório do BCE assinala a não comparabilidade dos dados de Chipre, os números ilustram o contencioso explosivo que grassa hoje pelas opiniões públicas da zona euro. Contencioso vulnerável a qualquer fator de combustão mais incautamente lançado para a fogueira. Voltaremos ao assunto.

1 comentário:

  1. Sobre o assunto, sugiro as análises de Luís Salgado de Matos, as únicas que vi por cá e que coloca questões com interesse:
    http://oeconomistaport.wordpress.com/2013/04/12/o-banco-central-europeu-descobriu-que-a-alemanha-e-o-pais-mais-pobre-da-europa/

    http://oeconomistaport.wordpress.com/2013/04/16/familias-alemas-as-mais-pobres-da-uniao-europeia-parte-ii/

    Quanto aos efeitos na Alemanha, por exemplo
    http://www.presseurop.eu/pt/content/article/3663181-os-pobres-alemaes-cuidam-mal-da-carteira
    e, este, que é mais preocupante, uma vez que cita as opiniões dos "sábios" que aconselham a Merkel.

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