Em recente entrevista telefónica ao “Jornal de Negócios”, o já nosso bem conhecido Paul De Grauwe não deixou lugar a grandes dúvidas. Em três tempos:
· “É óbvio que a estratégia e o modelo que a Alemanha quer impor no resto da Zona Euro é que, cada vez que houver uma crise, vocês terão de pagar. Nós, alemães, não queremos pagar. Fizemos tudo o que era correto e virtuoso, vocês erraram e agora têm de pagar. [Sendo que] os alemães também deveriam ser punidos. Se no Sul houve excesso de crédito, alguém teve de emprestar esse dinheiro. Se houve um endividado insensato também houve um credor insensato. E esses estavam no Norte da Europa. (…) Infelizmente, é o credor que impõe as condições.”
· “Se houver controlos de capital e não se conseguir converter depósitos de Chipre para outro país [o que entretanto já ocorreu com o estabelecimento de um limite de 5 mil euros para transferências mensais de contas cipriotas], esses depósitos perdem valor [significando que um depósito em Chipre não vale o mesmo que em qualquer outro país da Zona Euro, portanto que um euro cipriota deixou de ser igual a um qualquer outro euro, e prenunciando a crescente probabilidade de um cyprexit].”
· “[A crise de confiança] vai de certeza afetar Portugal e outros países. A confiança no setor bancário foi reduzida. Os bancos vivem de confiança. Porque é que as pessoas colocam os seus depósitos no banco? Porque confiam nele e que os seus depósitos não vão perder valor. Se essa confiança for minada, o sistema é fragilizado. Depois, só é preciso uma pequena coisa para criar uma crise. Claro que o sistema bancário português ficou mais frágil.”
Há, pois, animais perigosos à solta na Cidade, desde que a Alemanha e os seus principais acólitos (Holanda e Finlândia) no comando da Zona Euro decretaram uma política oficial doravante assente no bail-in de acionistas e depositantes do setor bancário. Ou, dito de outro modo, foi assim estendida a passadeira à abertura de uma caixa de Pandora... e os primeiros males, sendo imprevisíveis, podem muito bem vir a ser expiados pelos portugueses. Ainda se irá a tempo de fechar a caixa antes que dela escape o único bem lá contido, a esperança?
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