No momento em que escrevo, os canais de notícias
no cabo fazem a maldade de discutirem o Congresso do PS com, nas suas costas em
pano de fundo, um auditório praticamente vazio e um congressista (quem seria?) a
falar praticamente para o boneco, mais propriamente em termos práticos para a
mesa do Congresso presidida por Maria de Belém Roseira. Certamente que as
conversas dos delegados na sobremesa dos seus repastos tardios nos restaurantes
comprimidos das redondezas seriam bem mais acaloradas e elucidativas para o
cidadão comum do que muitos dos exemplos da maratona retórica que um Congresso
sempre acarreta. Tudo isto apesar da convicção de que nos Congressos se fala
mais para fora do que para dentro. Não pode deixar de se pensar no arcaísmo da comunicação partidária.
O ritual dos Congressos causa-me suores frios e
talvez seja essa uma explicação para que a vida partidária nunca me tenha
seduzido.
Não pude deixar de confrontar a entrevista de António
José Seguro ao Expresso no jardim da sede nacional do PS no Largo do Rato com a
sua atuação em pleno ritual do Congresso. Em meu entender, o registo da
entrevista é o verdadeiro AJS, nem mais nem menos, ou seja será em meu entender
o AJS que o próprio pretenderá afirmar e seria bom que estabilizasse esse
registo para que os portugueses começassem eles próprios a estabilizar
expectativas quanto à liderança do PS e a decidir em conformidade que mandato
eleitoral estaremos dispostos a conceder-lhe.
Finalmente alguém lhe perguntou “quem é o seu
ministro das Finanças?”. A resposta foi inteligente, refugiando-se não apenas
na ausência de tradição política em Portugal em anunciar previamente ministros,
mas comprometendo-se com a ideia de que para o futuro governo o ministro das
Finanças é tão importante como o da Economia e levantando o véu sobre alguns dos
pilares da governação pela qual se baterá eleitoralmente: um novo
desenvolvimento (sustentável e “greening”),
um novo compromisso social que combate mais ativamente desigualdades e uma nova
Europa, tudo orientado para a batalha do emprego. Ideias ainda muito gerais que
para se transformarem num pograma de governo exigirão muito trabalho.
Regressando ao ritual do Congresso, a aparente
unidade das tendências e personalidades potencialmente conflituais será mantida
até a um próximo quebrar de expectativas, que pode muito bem ser as próximas
autárquicas. As intervenções de Pedro Silva Pereira e Sérgio Sousa Pinto
anunciam que a vigilância será apertada. É deveras notável a similaridade
existente entre a intervenção do primeiro e os ecos da passagem de José Sócrates
pela RTP 1 até agora. A corrente está lá e não desarma. Sócrates mata: Este Governo
já é um governo presidencial; Silva Pereira esfola: O País deixou de ter um
presidente para ter dois ministros da Presidência.
No meio de tanto ritual, não deixa de ser
esclarecedor que o reacender das divergências no seio do Governo (mas que
estranho governo este!) dominasse a cena mediática.
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