sábado, 27 de abril de 2013

SEGURO NO JARDIM E O CONGRESSO



No momento em que escrevo, os canais de notícias no cabo fazem a maldade de discutirem o Congresso do PS com, nas suas costas em pano de fundo, um auditório praticamente vazio e um congressista (quem seria?) a falar praticamente para o boneco, mais propriamente em termos práticos para a mesa do Congresso presidida por Maria de Belém Roseira. Certamente que as conversas dos delegados na sobremesa dos seus repastos tardios nos restaurantes comprimidos das redondezas seriam bem mais acaloradas e elucidativas para o cidadão comum do que muitos dos exemplos da maratona retórica que um Congresso sempre acarreta. Tudo isto apesar da convicção de que nos Congressos se fala mais para fora do que para dentro. Não pode deixar de se pensar no arcaísmo da comunicação partidária.
O ritual dos Congressos causa-me suores frios e talvez seja essa uma explicação para que a vida partidária nunca me tenha seduzido.
Não pude deixar de confrontar a entrevista de António José Seguro ao Expresso no jardim da sede nacional do PS no Largo do Rato com a sua atuação em pleno ritual do Congresso. Em meu entender, o registo da entrevista é o verdadeiro AJS, nem mais nem menos, ou seja será em meu entender o AJS que o próprio pretenderá afirmar e seria bom que estabilizasse esse registo para que os portugueses começassem eles próprios a estabilizar expectativas quanto à liderança do PS e a decidir em conformidade que mandato eleitoral estaremos dispostos a conceder-lhe.
Finalmente alguém lhe perguntou “quem é o seu ministro das Finanças?”. A resposta foi inteligente, refugiando-se não apenas na ausência de tradição política em Portugal em anunciar previamente ministros, mas comprometendo-se com a ideia de que para o futuro governo o ministro das Finanças é tão importante como o da Economia e levantando o véu sobre alguns dos pilares da governação pela qual se baterá eleitoralmente: um novo desenvolvimento (sustentável e “greening”), um novo compromisso social que combate mais ativamente desigualdades e uma nova Europa, tudo orientado para a batalha do emprego. Ideias ainda muito gerais que para se transformarem num pograma de governo exigirão muito trabalho.
Regressando ao ritual do Congresso, a aparente unidade das tendências e personalidades potencialmente conflituais será mantida até a um próximo quebrar de expectativas, que pode muito bem ser as próximas autárquicas. As intervenções de Pedro Silva Pereira e Sérgio Sousa Pinto anunciam que a vigilância será apertada. É deveras notável a similaridade existente entre a intervenção do primeiro e os ecos da passagem de José Sócrates pela RTP 1 até agora. A corrente está lá e não desarma. Sócrates mata: Este Governo já é um governo presidencial; Silva Pereira esfola: O País deixou de ter um presidente para ter dois ministros da Presidência.
No meio de tanto ritual, não deixa de ser esclarecedor que o reacender das divergências no seio do Governo (mas que estranho governo este!) dominasse a cena mediática.

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