Passou praticamente despercebida em Portugal a
reunião solicitada (para o dia 20 de janeiro passado) pelo ministro das
Finanças alemão a um grupo de deputados do Parlamento Europeu, representando
todos os partidos envolvidos na discussão do mecanismo de resolução que deveria
assegurar passos decisivos à criação da União Bancária, grupo em que a deputada
Elisa Ferreira tem desempenhado um papel decisivo.
Invocando aqui uma notícia publicada no Wall Street Journal do dia seguinte à
referida reunião, a peregrinação de Schäuble a Bruxelas ilustra bem não só a
posição alemã de rejeição de mecanismos de mutualização, neste caso, bancária,
mas também a incomodidade criada com a divergência de opinião entre o Conselho
Europeu (em que a influência alemã é mais marcante) e o Parlamento Europeu em
que ela se dilui algo mais.
Não tenho conhecimento técnico sobre a matéria
que permita fazer antecipações do que tal reunião terá representado para uma
eventual aproximação de posições entre as partes. Aliás, dificilmente haverá em
Portugal posições mais informadas sobre a matéria do que a da própria Elisa
Ferreira que, melhor do que ninguém, poderá avaliar da exequibilidade da
intransigência do Parlamento Europeu forçar o recuo alemão. Não me parece
entretanto provável que os alemães apresentem flexibilidade para algum recuo,
podendo dizer-se que a maior probabilidade é não haver acordo e por conseguinte
um impasse ser a solução mais credível.
Sinceramente não tenho preparação para o
antecipar. Aqui o que me interessa registar para memória futura é mais uma evidência
do caráter atribulado da construção da complexa arquitetura europeia e da sua dependência
atual e futura não da coerência de posições, valores ou soluções racionais e
democraticamente validadas pelos países intervenientes mas de circunstâncias, táticas
e conjunturas políticas.
E, nesta perspetiva, a peregrinação de Schäuble é
bem ilustrativa do que teremos para o futuro em termos de construção europeia.
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