sábado, 18 de janeiro de 2014

APRIMORAMENTO FERNANDINO


Prosseguem as presenças e os comentários semanais de Fernando Teixeira dos Santos (FTS) no “Conta-Corrente” da ETV. Pessoalmente mais solto e também mais telegénico, tendo sobretudo organizado um discurso mais estruturado, FTS faz uma utilização engenhosa da sua competência técnica e da experiência política que acumulou e torna assim apreciável o dispêndio daqueles três quartos de hora – mesmo quando por vezes lida menos bem com a sua permanente necessidade de encontrar possíveis compatibilidades entre a matriz política socialista em que se filia e a abordagem económica ortodoxa em que se especializou.

No último programa, FTS acrescentou também mais alguns pontos interessantes ao dossiê do resgate português, aperfeiçoando claramente um discurso explicativo que vai ganhando em consistência – pena é, somente, que a respetiva articulação não tivesse estado tão afinada aquando do seu regresso público de junho, sobretudo na medida em que as primeiras impressões sempre relevam sobre o que lhes sucede.


E o que disse desta vez FTS? Pois que lhe era claro que, após o resgate da Irlanda (ou da Grécia?), “alguma coisa teria de ser feita”, “que Portugal, na altura, entendeu que não deveria pedir um resgate da forma como foi feito no caso da Grécia”, que só entre o final de 2010 e o início de 2011 a Europa abriu a chamada “abordagem compreensiva da crise” (nomeadamente com a criação do fundo permanente de resgate, agora Mecanismo Europeu de Estabilidade, e a análise ao sistema financeiro conhecida pela figura dos stress tests) e que o PEC 4 era um programa cautelar avant la lettre. Cito:

1. “Os meses que se seguiram ao pedido de resgate por parte da Irlanda, em novembro de 2010, foram de grande pressão sobre Portugal. Porque, depois da Irlanda ter pedido o resgate era confrontado, em particular no Eurogrupo, com posições de colegas meus que achavam que Portugal estava numa situação em que devia também pedir ajuda.”

2. “Deveríamos exigir por parte da Europa um envolvimento mais ativo na resolução da crise, o que não aconteceu durante muito tempo. E só tivemos esse envolvimento mais proativo por parte da Europa a partir de 2012, com o anúncio da união bancária, com a afirmação de que o caso grego não se repetiria e, depois, com a intervenção do BCE.”

3. “Em finais de 2010, início de 2011, a posição portuguesa era a de exigir uma atitude mais proativa das autoridades europeias. Não queríamos avançar com um tipo de apoio europeu do género daquele que foi o grego: pouco apoiado e sem rede de segurança ao nível europeu. Porque aquilo não foi um resgate à Grécia, foi uma punição à Grécia.”

4. “Foi nessa altura, por parte dos portugueses mas também dos espanhóis, que a Europa começou a tomar iniciativas de maior proatividade na resolução da crise, ao ponto de avançar com a necessidade de se fazer uma análise e um acompanhamento dos países em maior dificuldade.”

5. “O PEC que na altura foi elaborado com a Comissão e com o BCE era já um programa de tipo cautelar e visava apoiar Portugal a manter-se nos mercados, com um programa de reformas e um programa de ajustamento orçamental que pudessem restaurar a confiança dos mercados. Isto é ironia dos tempos, porque ao fim de três anos de muitos sacrifícios vamos conseguir o que já poderíamos ter conseguido em março de 2011: o programa de natureza cautelar.”

Várias lacunas, certos erros e alguns disparates à parte, tenho para mim como cada vez mais claro que a dimensão da responsabilização que devemos atribuir a Sócrates e FTS mais as suas desavenças em nada é comparável com a que objetivamente foi adquirindo a troika formada por Cavaco, Passos e Portas que tão vergonhosamente agiu afogando Portugal e os portugueses...

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