quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

A TENTAÇÃO DO GADGET

(Jornal Público, 9 de janeiro 2014, edição impressa)

O ar enlevado do ministro Crato a iniciar duas alunas de uma escola piloto no uso de um tablet é bem a ilustração das contradições deste ministro.
Pois, o Magalhães foi o que foi, uma utilização em grande escala de dinheiro público para gerar mercados públicos a uma empresa na área das TIC (pergunta inevitável: terá produzido tal dinheiro efeitos e está hoje a empresa a evoluir num mercado extremamente competitivo como o dos pequenos PC?). E como bem nos recordamos tão impressionado ficava Sócrates com aquele gadget, mostrando-o a um incauto Chavez que já está no outro mundo.
Ora, o ministro Crato tão crítico dessa falsa de modernidade não resistiu à tentação do brinquedo e, embora sem dinheiro, quem não tem cão caça com gato, lá conseguiu com a ajuda da Samsung e da Leya, que patrocinaram o projeto, fazer o gosto ao dedo e dotar uma escola, piloto entenda-se pois o mecenato não dá para mais, de mais um símbolo da modernidade pedagógica. Confrontado com mais uma possível contradição no seu discurso, Crato lá puxou dos galões para referir que nada era semelhante ao caso do Magalhães. Para ele nada substitui os conteúdos pedagógicos e nada nem ninguém pode substituir o professor. Imagino o vómito ou a revolta surda que muitos professores terão sentido ao ler a notícia do Público pois, se segundo o ministro nada substitui o professor, então o próprio ministro parece pouco convencido da sua própria máxima. Massacrar a vida a esses mesmos professores de diferentes maneiras e feitios faz crer que o homem estará a pensar numa revolução maquinal do professorado, substituindo-o por máquinas disciplinadas, com os circuitos em dia, do maior rigor possível no uso de fórmulas e algoritmos. E assim sendo iniciar as criancinhas no uso do gadget sempre ajudará a receber os novos instrutores.
Oh Crato, estrelinha que te guie …

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