(Jornal Público, 9 de janeiro 2014, edição impressa)
O ar enlevado do ministro Crato a iniciar duas
alunas de uma escola piloto no uso de um tablet é bem a ilustração das
contradições deste ministro.
Pois, o Magalhães foi o que foi, uma utilização
em grande escala de dinheiro público para gerar mercados públicos a uma empresa
na área das TIC (pergunta inevitável: terá produzido tal dinheiro efeitos e está
hoje a empresa a evoluir num mercado extremamente competitivo como o dos
pequenos PC?). E como bem nos recordamos tão impressionado ficava Sócrates com
aquele gadget, mostrando-o a um incauto Chavez que já está no outro mundo.
Ora, o ministro Crato tão crítico dessa falsa de
modernidade não resistiu à tentação do brinquedo e, embora sem dinheiro, quem não
tem cão caça com gato, lá conseguiu com a ajuda da Samsung e da Leya, que
patrocinaram o projeto, fazer o gosto ao dedo e dotar uma escola, piloto
entenda-se pois o mecenato não dá para mais, de mais um símbolo da modernidade
pedagógica. Confrontado com mais uma possível contradição no seu discurso,
Crato lá puxou dos galões para referir que nada era semelhante ao caso do
Magalhães. Para ele nada substitui os conteúdos pedagógicos e nada nem ninguém
pode substituir o professor. Imagino o vómito ou a revolta surda que muitos
professores terão sentido ao ler a notícia do Público pois, se segundo o
ministro nada substitui o professor, então o próprio ministro parece pouco
convencido da sua própria máxima. Massacrar a vida a esses mesmos professores
de diferentes maneiras e feitios faz crer que o homem estará a pensar numa
revolução maquinal do professorado, substituindo-o por máquinas disciplinadas,
com os circuitos em dia, do maior rigor possível no uso de fórmulas e algoritmos.
E assim sendo iniciar as criancinhas no uso do gadget sempre ajudará a receber
os novos instrutores.
Oh Crato, estrelinha que te guie …
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