(Kipper Williams, http://www.guardian.co.uk)
Dois dias atrás o panorama da Zona Euro era o acima reproduzido. Comparem-se atentamente os cinzentos de 2007 (todos diferentes, todos quase iguais) com os alaranjados de 2014 (um jogo altamente lucrativo para muitos, Alemanha à cabeça e Eslováquia incluída, e um jogo aparentemente já quase praticável para todos). Ou seja, ao nível das formas tudo parece estar a evoluir pelo melhor, sendo que nada de essencial foi efetivamente enfrentado/resolvido e que a doença diagnosticada permanece latente. Mas as formas são quanto basta para que os funcionalizados políticos europeus corrijam o tiro e respondam como lhes é exigido pelos “investidores”: afirmando que o pior da crise já passou e que a normalidade está de volta (com Grécia e Portugal a passarem de merecedores de punição a participantes do sucesso) – no dealbar de um novo ciclo, pois claro...
Mais especificamente no caso português, a estranha euforia (?) em curso – e que prossegue a um muito bem organizado ritmo... – vai sendo conformemente aproveitada para se assegurar o financiamento necessário em 2014 e sinalizar que existe capacidade para um acesso regular ao mercado, talvez mesmo para se começar a pré-financiar 2015. Com o relógio a correr para a salvífica aparição prometida para maio...
A fatura, essa, irá continuar a ser paga a prestações pelas migalhas retiradas aos aposentados e pensionistas e aos funcionários públicos, pelo menos até que de algum modo se verguem perante limites de insuportabilidade ou o aviltamento se imponha ao desaforo. O resto, que sendo o grosso não deixam de ser trocos, vai-se “empurrando com a barriga” (o termo técnico é rollover) – não foi Sócrates que disse que as dívidas não se pagam? – e garantindo mais que compensatoriamente aos credores por via da especulação em que são mestres. E, no que à política diz respeito (arquivem-se pour mémoire – ver abaixo – o que indicam as sondagens ao momento), com a “vantagem” colateral de uma possível manutenção no poder de um “catavento de opiniões erráticas” (cenário-base do próprio) ou da sua possível sucessão por um tripartidário “governo de salvação nacional” (cenário-base do companheiro presidente) ou por um bloco central longamente urdido e cozinhado em lume brando (cenário-base de António Costa); e com Seguro, o PS e a esquerda num irremediável naufrágio…
Então e a doença?, perguntarão os mais avisados. Pois, e quanto a Portugal, volto à análise do “Tortus Capital” (post de 11 de janeiro) e aos equívocos que a mesma identificava (ainda que interessadamente) – porque, ainda que esperando estar a ver mal, não vejo existirem nem a capacidade empresarial nem o posicionamento externo que nos possam trazer um crescimento que pague o serviço da dívida (também privada, sobretudo privada) que fomos acumulando.
Já quanto à Europa, veremos o que nos reservam os barris de pólvora ucraniano e turco, o convencimento e a inflexibilidade alemãs, as eleições de maio, os stress tests aos bancos (sobretudo aos grandes e menos periféricos) e a evolução das relações transatlânticas – pelo menos…
Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado. Ou tão-somente o sistema...
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