A tentativa de branqueamento dos custos de ajustamento
da crise das dívidas soberanas ainda agora saiu do adro e até às eleições
europeias vai prosseguir com requintes de malvadez. A tentativa é tão ambiciosa
que envolve mesmo a Grécia, claro com o pretexto de mostrar que, mesmo onde o
ajustamento teve de ser mais violento, a via punitiva é purificadora, redimindo
os pecadores e indisciplinados. A recuperação virá como uma recompensa
pretensamente agilizada pelos amos e senhores.
É claro que (Mark Wiesbrot, The Guardian) “quatro
anos passados, a Grécia tem o seu rendimento nacional abaixo 25% do nível antes
da recessão, um dos piores resultados, comparável à pior recessão na Grande
Depressão americana. O desemprego ultrapassou 27% e mais de 58% para os jovens
com menos de 25 anos. Há menos Gregos empregados do que havia nos últimos 33
anos. E a despesa pública real em saúde foi cortada em mais de 40%, numa época
em que o sistema de saúde é mais necessário”.
Ora as perspetivas de retorno ao crescimento da
Grécia são pela tentativa de branqueamento atribuídas aos benefícios redentores
da via punitiva. Mas o que o branqueamento parece ignorar é que o governo grego
aprovou recentemente um vigoroso plano de estímulo à economia grega de 7,5 mil
milhões de euros, equivalente a 2,7% do PIB grego gerado no período de aplicação
do programa. Ora, a isto é que eu chamo uma grande lata da parte dos arautos da
via austeritária e punitiva. Claro que valerá a pena discutir como é que esse
programa será compatível com uma dívida pública de 176% do PIB, quando no início
do processo esse rácio era de 115%. Mas com o branqueamento de vento em popa
essa interrogação será considerada uma minudência.
Será que as eleições europeias vão perpetuar que
este cinismo continue no poder?
Sem comentários:
Enviar um comentário