Passei larga parte da manhã a ouvir na rádio e na
televisão testemunhos de pessoas indiferenciadas sobre o desaparecimento de Eusébio da Silva Ferreira e é de facto impressionante e comovente como o Português
comum vive os seus símbolos nacionais e os expressa em palavras simples. Podem
dizer-me que são símbolos do passado, vindos da profundidade do antigamente,
que o futebol não enobrece uma sociedade e que os desafios são outros. Mas
aqueles testemunhos dizem o contrário, eles evidenciam que é também com estes símbolos
que temos de construir alternativas, até porque gente como Eusébio da
Silva Ferreira não tem culpa de que outros símbolos em outras atividades não tenham
emergido com a força como o seu ficou enraizado.
A morte de Eusébio transporta-me também para um
turbilhão de memórias afetivas até à medula e que passam por exemplo pelo início
da campanha europeia dos tempos do Benfica de Bella Gutman com as primeiras
transmissões televisivas, ainda não havia TV em minha casa e que eu via
extasiado em casa de uns amigos de maior capacidade financeira na época. Não há
um português vivo que não se tenha emocionado com os 5-3 da Coreia e com o modo
como a força, agilidade e elegância guerreira africanas suplantaram aquela
ameaça asiática que nos destruíra inicialmente com o rolo compressor dos 3-0. Vi-o
poucas vezes ao vivo, duas vezes nas Antas, duas no Bessa e talvez apenas uma única
vez na Luz. Quiseram as coincidências da vida que o encontrasse há muitos
poucos anos numa viagem de avião Porto-Lisboa e que graças ao contributo da
minha colega Lurdes Cunha na Quaternaire tivesse vencido a minha timidez atávica
e lhe pedisse um autógrafo, pedido que Eusébio resolveu diligentemente abrindo
a sua pasta, tirando uma fotografia colorida e a autografasse.
Por estranho que vos pareça, com a morte de Eusébio
é também uma parte das minhas memórias que se vai neste turbilhão do tempo.
Sem comentários:
Enviar um comentário