sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A POESIA DO POVO



O título é do meu filho Hugo, com o qual conversei o tema.
Nunca me passou pela cabeça que o Quadratura do Círculo fosse sede de discussão do tema Eusébio e a rábula que os partidos políticos construíram em torno do Panteão.
Pacheco Pereira (PP) teve o rigor de análise que se lhe conhece. Os excessos de cobertura televisiva e radiofónica terão colocado a nu a vulnerabilidade da sociedade portuguesa, segundo ele em choque tremendo e desvalorizador com os políticos e intelectuais, acossada e refugiada num círculo restrito de domínios simbólicos nacionais, em que o futebol corre o risco de se transformar em fonte de todas as representações. Certamente que a rábula do panteão mostra sobretudo a necessidade mórbida dos partidos políticos cavalgarem a identificação com o processo, na ilusão de que isso lhes proporcione uma imagem mais humana, quando também me parece que essa presença não transforma em nada o divórcio que se mantém entre o povo profundo e essa classe política.
Mas o analista PP por muito que se esforce nunca compreenderá a empatia do e com o povo e por isso não é capaz de perceber a poesia do povo nestes momentos de rara identificação. E por muito excesso que a cobertura do acontecimento nos “latino-americanize”, essa poesia era preexistente, aliás como a generalidade dos testemunhos singelos e não construídos nos permitiu compreender. Testemunhos do mais incógnito transeunte ao testemunho de muitos daqueles intelectuais que PP vê perigosamente esfumarem-se do simbólico nacional.
Como o pequeno texto de Maria João Avillez no Público nos anuncia, o futebol provocará sempre uma divisão irredutível entre os que, por mais abastardado que ele se apresente, podem nele ver a poesia das emoções e do movimento e os que o interpretam como um evento de massas “tout court”. E aqui não há intelectuais, políticos ou povo. Há quem o compreenda e viva ou o seu contrário. O tema é bem mais importante do que aparenta, pois influencia decisivamente a relação do eleitor sobre o político ou personalidade em quem se vota. O analista rigoroso, coerente e implacável não intervirá nunca na empatia do voto.

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