quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

METÁFORAS

(Sítio Arqueológoco de Miróbriga, Santiago de Cacém)


Estive hoje em trabalho, num dia belíssimo e num lugar excecional, Sítio Arqueológico de Miróbriga, em Santiago de Cacém, com uma intervenção num seminário sobre centros urbanos, em companhia dos amigos Paulo Madruga (Augusto Mateus e Associados), Mendes Batista (há quanto tempo!) e Luís Cavaco (ADRAL).
O que me estava reservado era dissertar sobre atração de residentes, seus fatores e limites no quadro dos centros urbanos alentejanos, particularmente do Alentejo Litoral, e das suas amenidades e condições residenciais e de vida.
Com o desenvolvimento da discussão e na medida em que a programação de Fundos Estruturais 2014-2020 que continua interrogada ocupou o debate, ocorreu-me esta metáfora que partilhei com o auditório.
As sucessivas programações em Portugal podem ser interpretadas segundo um jogo dinâmico em que intervêm as seguintes forças: (i) forças voluntaristas de inovação na programação, regra geral estimuladas pela própria Comissão Europeia que, período a período, introduz novas figuras, frequentemente sem avaliar as experiências anteriores; (ii) forças de inércia, do tipo “business as usual”, fazer mais do mesmo, deixa-os pousar e depois veremos; (iii) forças regulamentares regra geral associados à administração pública portuguesa, ministérios setoriais, verticalizados, segmentados, regra geral sem qualquer perspetiva para o território, em busca desesperada de complementos para a escassez orçamental de que padecem.
O jogo tem três movimentos ou fases. Na primeira, de conceção estratégica, as forças da inovação predominam e as restantes estrebucham mas ficam na expectativa. Na fase de operacionalização, antecâmara para a implementação, regra geral as forças regulamentares recuperam posições: “é o direito administrativo, estúpido”. Na terceira, de implementação, na qual os ministérios de tutela vivem apavorados por serem conotados com baixa execução por qualquer impreparado e impetuoso jornalista, regressa a voz de comando da execução e as forças da inércia, do mais do mesmo, que estão em todo o lado, regressam poderosas. E a inovadora Comissão Europeia, por respeito aos Estados-membros, mas também seduzida pelo ritmo de execução, mete o rabinho voluntarista da inovação entre pernas e cala-se para depois em relatórios mais longínquos vir afinal dizer que mais do mesmo não dá.
Resistirá o próximo período de programação a esta metáfora?

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