Com a piada fina de sempre, Ricardo Araújo
Pereira dizia hoje que o poder em França parece ser mais afrodisíaco do que em
qualquer outro lugar, situando-se na curva ascendente de sensualidade feminina
que vai de Ségolène a Julie passando por Valérie, ligações conhecidas de
François Hollande. O assunto merece discussão, não necessariamente pelo seu tom
picaresco, mas por questões bem mais amplas de significado como a privacidade
do poder, as relações deste com o sexo, a vulnerabilidade dos homens e mulheres
de Estado e o modo aparentemente tranquilo parece conviver com o assunto.
Mas não é esse o tema que me interessa. Que o
François parece estar baralhado não tenho dúvidas. Mas a baralhação que releva
para o comentário de hoje não é tanto a das “aventures extra-conjugales”, mas a das ideias económicas para
resolver os problemas da velha, e não tão inovadora como se desejaria, França. Pois
o senhor Hollande, sobre o qual as minhas expectativas e esperanças têm vindo a
esmorecer a uma velocidade típica dos tempos políticos modernos, resolveu puxar
dos seus galões e reabilitar o pensamento económico francês (e havia tanta
gente para reabilitar), imaginem da velha (ainda mais velha do que a velha França)
Lei de Say (Jean Baptiste Say). E fê-lo quase assumindo fórmulas como “L’État c’est Moi”, proclamando : “C’est donc sur l’offre qu’il faut agir. Sur
l’offre ! Ce n’est pas contradictoire avec la demande. L’offre crée même la
demande” (É portanto sobre a oferta que é necessário agir. Sobre a oferta.
Não é contraditório com a procura. A oferta cria de facto a procura).
Hollande parece ter querido chamar a atenção para
os constrangimentos que têm bloqueado a produtividade em França, cavando um
desvio crescente com os principais rivais comerciais. Mas daí a recuperar a
formulação de Say dá a entender que Keynes terá sido proscrito também nas
Grandes Écoles.
Francesco Saraceno invoca o trabalho estatístico
do ainda prestigiado INSEE para mostrar de acordo com as empresas francesas que
os problemas de oferta não têm segundo as próprias empresas a relevância que
Hollande lhes atribui. Ou seja, o homem parece não só não ter lido com a atenção
suficiente a Teoria Geral, como também parece não entender os problemas das
empresas.
François, o melhor será regressar ao regaço
acolhedor de Ségolène, Valérie ou Julie (decida-se!) para aclarar as ideias.
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