segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

HOLLANDANÇAS



Dizia hoje Fernando Alves nos Sinais da TSF que um acossado Hollande estava em viagem para se encontrar com um não menos acossado Erdogan na Turquia, tocado ao de leve por fumos de corrupção, sem que dessa viagem resultem presumivelmente ideias fortes para a resolução da questão turca em termos de integração na União Europeia. A tentativa de minimizar alguns diferendos criados na governação Sarkozy e alguns acordos comerciais validados pela comitiva empresarial que acompanha o Presidente francês serão, segundo o Le Monde, os resultados escassos de uma viagem que poderia representar muito mais.
Hollande é um homem acossado e não apenas com a sua vida afetiva num oito. Das comemorações na Praça da Bastilha da sua eleição à fúria que se vislumbrava nas manifestações da semana passada em Paris, num ápice bem típico dos tempos políticos de hoje, Hollande enfrenta sem aparentes soluções para o resolver a cavalgada da Frente Nacional. Mas aí o pobre homem partilha culpas com outros protagonistas, designadamente com as incongruências do projeto europeu e com todas as caras que têm prolongado no tempo essa construção forçada, sem chama e sempre arredada do confronto democrático com as sociedades reais nos Estados-membros.
Tenho-me interrogado sobre os fatores que terão determinado guinada política tão extrema como aquela que Hollande protagonizou paradoxalmente em pleno vórtice da sua complicada vida afetiva.
Pensei em primeiro lugar em inconsistência do projeto de ideias que conduziu à sua reeleição. Afinal as Grandes Écoles já não são provavelmente o que já foram, o Partido Socialista francês não se tem notabilizado em matéria de pensamento inovador e o programa eleitoral que o conduziu ao poder, se retirarmos a questão europeia, não era nada particularmente apelativo. É verdade que estamos nesta matéria perante uma entrada de leão não muito convicto e já de provecta idade nas ideias, por isso a saída mesmo de sendeiro não é propriamente um espanto.
Inclino-me para uma má avaliação dos problemas da França e um choque de realidade que, conjugados com a fragilidade das ideias, explicarão a pirueta. Como mostrámos em post anterior, os problemas da França não são apenas problemas estruturais e de oferta, embora estes existam e possa falar-se de um problema de competitividade da velha França face à fronteira tecnológica europeia. São também problemas de procura e é nesse contexto e com os problemas de competitividade conhecidos da economia francesa que a guinada para a economia da oferta mais austeridade a todo o preço continua a ser incompreensível. Será que Hollande pretende com a guinada austeritária combater os tais problemas de competitividade (leia-se de produtividade e custo unitário de trabalho), assumindo-os pela perspetiva dos custos e não pela criação de valor?
Talvez não me esteja a enganar por muito!

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