Dizia hoje Fernando Alves nos Sinais da TSF
que um acossado Hollande estava em viagem para se encontrar com um não menos
acossado Erdogan na Turquia, tocado ao de leve por fumos de corrupção, sem que
dessa viagem resultem presumivelmente ideias fortes para a resolução da questão
turca em termos de integração na União Europeia. A tentativa de minimizar
alguns diferendos criados na governação Sarkozy e alguns acordos comerciais
validados pela comitiva empresarial que acompanha o Presidente francês serão, segundo o Le Monde, os resultados escassos de uma viagem que poderia representar
muito mais.
Hollande é um homem acossado e não apenas com a
sua vida afetiva num oito. Das comemorações na Praça da Bastilha da sua eleição
à fúria que se vislumbrava nas manifestações da semana passada em Paris, num ápice
bem típico dos tempos políticos de hoje, Hollande enfrenta sem aparentes soluções
para o resolver a cavalgada da Frente Nacional. Mas aí o pobre homem partilha
culpas com outros protagonistas, designadamente com as incongruências do
projeto europeu e com todas as caras que têm prolongado no tempo essa construção
forçada, sem chama e sempre arredada do confronto democrático com as sociedades
reais nos Estados-membros.
Tenho-me interrogado sobre os fatores que terão
determinado guinada política tão extrema como aquela que Hollande protagonizou paradoxalmente
em pleno vórtice da sua complicada vida afetiva.
Pensei em primeiro lugar em inconsistência do
projeto de ideias que conduziu à sua reeleição. Afinal as Grandes Écoles já não
são provavelmente o que já foram, o Partido Socialista francês não se tem
notabilizado em matéria de pensamento inovador e o programa eleitoral que o
conduziu ao poder, se retirarmos a questão europeia, não era nada
particularmente apelativo. É verdade que estamos nesta matéria perante uma
entrada de leão não muito convicto e já de provecta idade nas ideias, por isso
a saída mesmo de sendeiro não é propriamente um espanto.
Inclino-me para uma má avaliação dos problemas da
França e um choque de realidade que, conjugados com a fragilidade das ideias,
explicarão a pirueta. Como mostrámos em post
anterior, os problemas da França não são apenas problemas estruturais e de
oferta, embora estes existam e possa falar-se de um problema de competitividade
da velha França face à fronteira tecnológica europeia. São também problemas de
procura e é nesse contexto e com os problemas de competitividade conhecidos da
economia francesa que a guinada para a economia da oferta mais austeridade a
todo o preço continua a ser incompreensível. Será que Hollande pretende com a
guinada austeritária combater os tais problemas de competitividade (leia-se de
produtividade e custo unitário de trabalho), assumindo-os pela perspetiva dos
custos e não pela criação de valor?
Talvez não me esteja a enganar por muito!
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