segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

MUSICANDO



Aqui reconheço o meu irreparável conservadorismo em matéria de alguns usos e costumes, sejam eles certas rotinas pessoais, certas práticas alimentares ou certas opções culturais e desportivas. Mais em concreto, e estimulado por um texto do “Financial Times”, reporto-me hoje à música que consumo e ao modo como a ela acedo – porque uma hipótese que me ultrapassa mesmo é a de prescindir de algumas consultas orientadoras em jornais e revistas, de alguns conselhos pessoais que muito valorizo, de umas voltas e audições pelos locais de venda (coisa que já vem dos tempos distantes da “Clave” e da “Discoteca de Santo António”, passou depois pelas lojas do “Brasília” e é agora dominada por passagens algo mais fugazes pelas Fnac’s) e de uma disponibilização física dos CD’s assim eleitos.

Não é, pois, o argumento autoral aquele que me move em primeira instância. Sou naturalmente sensível à ideia de que baixar livremente músicas para o computador, o iPod ou o MP3 prejudica os artistas e as marcas e assim dificulta a nova criação e a sua produção. Mas, como vivo – quem não vive nestes dias? – rodeado por amadores amplamente especializados no recurso à net para a plena satisfação das respetivas necessidades musicais ou equiparadas, até acabo por nem sempre resistir às suas incursões ou tentações – pecados muito pontuais porém, porque rapidamente regresso às delícias daquele irresistível ram-ram.

Os números, esses, são eloquentes. Veja-se no gráfico, que todavia só recua a 2005, a evolução ocorrida nos últimos anos em termos de vendas musicais à escala global: uma redução para menos de metade do seu volume em suporte físico e uma mais que triplicação das vendas digitais – é perfeitamente clara a irreversível vitória do download (bem mais gratuito do que pago, porque a imaginação domina e é cada vez mais vasta a panóplia de métodos disponíveis para obter música), aprofundando uma tendência já iniciada na última década do século XX. Acresce agora que é crescente a quebra de receitas no download e que a discussão se volta forçosamente para a procura de novíssimos possíveis modelos de negócio, genericamente definíveis como associados à subscrição de serviços de música digital mas passíveis de contemplar requintes mais ou menos disfarçados e impensáveis. As inesgotáveis avenças e desavenças entre o capitalismo e a tecnologia...

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