sábado, 25 de janeiro de 2014

DERIVAS DE DIREITA



 (Parque Nacional de Monfrague)
Tenho para mim que a direita ibérica no poder, PP em Espanha e maioria PSD-CDS em Portugal, por mais sofisticação ou inovação que coloque no discurso e prática políticos, regressa sempre, mais tarde ou mais cedo, à sua matriz original de favorecer que o mercado se sobreponha ao bem público.
Um dos domínios privilegiados para observar o retorno dessas derivas é o ambiente e a preservação dos níveis de biodiversidade do território.
Vem a preceito a notícia no El País que leio numa Seixas húmida e praticamente deserta de residentes metropolitanos. O governo de Rajoy aprovou ontem o anteprojeto da Lei de Parques Nacionais (15 em Espanha) com uma “pequena” alteração de última hora. Essa “pequena” alteração consiste na introdução de uma nova exceção à proibição de qualquer tipo de urbanização ou edificação nestes espaços naturais privilegiados, permitindo que “solos urbanos ou suscetíveis de transformação urbanística” sejam consagrados nestes espaços naturais.
A controvérsia suscitada por organizações ambientalistas espanholas prende-se com o facto de ser estranha a justificação apresentada pelo governo espanhol, escudando-se na impossibilidade penalizadora de localização em alguns espaços equipamentos básicos como centros de saúde, por exemplo e na necessidade de gerir a presença nesses espaços de pequenos núcleos habitacionais já existentes. Seria lógico que tais exceções fossem objetos de justificação específica e não de uma exceção geral que abre caminho a muita coisa.
É que, sabendo a matriz forte de ligação de franjas relevantes do partido no governo com o processo imobiliário (ver por exemplo o número de Comunidades Autónomas PP que se viram trilhadas em cumplicidades obscuras com a bolha financeira espanhola e suas ramificações bancárias), ninguém de boa fé acreditará que a envergadura de tal exceção não conduza ao aviltamento de espaços que deveriam ser um bem público, com conservação assumida por toda a comunidade.
Por cá, escudando-se na tramitação administrativa penalizadora da celeridade exigida para a atração de investimento, não é de enjeitar que a biodiversidade sofra também os efeitos da simplificação administrativa. Mas aqui a questão é bem mais complexa, pois a propósito dos PIN turísticos (que ninguém ainda avaliou) não foi o governo de Sócrates que passou por cima de planos de ordenamento do território invocando o tão discutível interesse nacional?

Sem comentários:

Enviar um comentário