(Investigadores em protesto na Unversidade de Aveiro. Foto Paulo Novais/Lusa)
Errático, instável, pressionado pelas circunstâncias,
decisões de tribunais, exigências da Comissão Europeia e sempre às turras com
os sindicatos, o ministro Crato lidera a política de educação da maioria que
governa sem um quadro de orientação legível para a maioria dos portugueses. Mas
há pelo menos uma regularidade, que começa a emergir, essa sim com grande
visibilidade. Crato especializou-se em suspender, anular e destruir orientações
de política pública de educação, com as quais podíamos estar ou não de acordo,
sem avançar com alternativas coerentes a essas orientações. Ou seja, Crato
especializou-se na estratégia do vazio e parece confortável com isso. Não
sabemos se isso é o produto da sua inferioridade e falta de peso político face à
máquina trituradora do Ministério das Finanças, com uma Maria Luís que saiu
melhor do que a encomenda, ou se é mesmo uma adoração doentia pela estratégia
do vazio.
O recente trambolhão experimentado pelo
financiamento à ciência, não só em termos de ação direta junto de equipas de
investigação e laboratórios associados, mas também em termos de bolsas
concedidas a investigadores, doutoramentos e pós doutoramentos, é mais um
exemplo dessa estratégia do vazio.
A aposta na ciência num país que não poderá nunca
constituir fronteira do desenvolvimento científico (por meras razões de massa
crítica de garimpeiros da investigação) exige uma discussão profunda, que não
pode ficar cativa nem de lobbies
corporativos, nem do grau primário com que os jornalistas portugueses discutem
e veiculam essa discussão para o grande público. A investigação científica num
país cuja base produtiva é frágil e largamente incapaz de a prazo utilizar produtivamente
o conhecimento produzido requer uma rigorosa identificação das prioridades
nacionais nesse domínio. É necessário antes de mais o país definir o que
pretende atingir com a aposta na excelência científica. Um objetivo nacional
pode ser, por exemplo, o de garantir emprego científico aos mais capazes e excelentes
e com isso endogeneizar na sociedade portuguesa a absorção dos mais
qualificados, contrariando os riscos da diáspora da qualificação. Mas num país
como Portugal essa missão é curta. É fundamental encontrar um sentido estratégico
para a valorização do conhecimento que a aposta no emprego científico
determinará. Não podem ignorar-se os riscos de perda do conhecimento para o
exterior, beneficiando países que não fizeram o investimento e recebem os
resultados, mesmo que a diáspora não se produza.
A translação do conhecimento que a investigação
científica bem sucedida proporciona tanto pode transformar-se em bens públicos
que, por exemplo, os sistemas públicos podem absorver (caso por exemplo do
Sistema Nacional de Saúde que pode beneficiar da excelência nacional nas ciências
da vida), como ser transferido para o sistema produtivo.
Mariano Gago, o ministro dos governos PS que
colocou a excelência científica no mapa nacional, protagonizou uma aposta
coerente e consistente no desenvolvimento científico, embora não resolvendo o
problema da sua translação.
A estratégia do vazio de Nuno Crato nem mantém a
aposta ao nível anterior, antes a parece enterrar, nem formula qualquer ideia
coerente de apostar em investigação científica com maior propensão ou
probabilidade de translação para o sistema produtivo. Um bom indicador dessa
incapacidade tem sido a sistemática crítica que a Comissão Europeia tem
dirigido ao Acordo de Parceria que definirá a programação de Fundos Estruturais
em Portugal para o período 2014-2020, sobretudo baseada segundo a Comissão na
tentativa velada do governo português financiar a investigação científica através
de Fundos Estruturais que estão a pensar essencialmente em inovação e
desenvolvimento tecnológico.
Uma estratégia de vazio como esta corre o risco
de nem assegurar a permanência em Portugal da nossa jovem excelência científica,
nem de criar condições para a disseminação de conhecimento junto das PME. Enquanto
escrevo este post sigo a entrevista
de uma das estrelas da investigação científica nacional, o investigador Rui
Costa (Fundação Champalimaud) que acaba de obter um valioso prémio europeu com
um financiamento de dois milhões de euros. O caso de Rui Costa é um autêntico outlier no vazio da estratégia de Crato.
O seu exemplo não resulta seguramente dessa estratégia.
Sem comentários:
Enviar um comentário