terça-feira, 7 de janeiro de 2014

UM DESFILADEIRO ÀS PORTAS DE ROMA



O já chamado “caso Monte dei Paschi di Siena (MPS)” tem um pouco de tudo o que faz um bom filme de suspense: história – fundado em 1472, é o banco mais antigo do mundo em funcionamento –, crime e corrupção – entre más práticas e ocultação de documentos em diversas operações financeiras nada transparentes e a ocorrência de suicídios –, política – entre financiamentos partidários nacionais e evidências múltiplas de relevantes teias regionais e locais –, cumplicidades internacionais – os maiores problemas do banco começaram em finais de 2007, por ocasião da compra de um pequeno banco regional (“Antonveneta”) ao banco espanhol “Santander” por € 9 mil milhões (que o tinha adquirido por € 6,6 mil milhões apenas umas semanas antes!), com a colaboração formal ativa do “JPMorgan” e posteriores ajudas contabilísticas do “Deutsche Bank” e do banco de investimento japonês “Nomura” – e envolvimentos institucionais ao mais alto nível – dos sucessivos governos italianos e do Banco de Itália (designadamente aquando da míope liderança desregulacionista de Mario Draghi) à Comissão Europeia e ao Banco Central Europeu.



Na passada semana (ver esquema e ilustração acima), a fundação bancária local que controla a maioria do capital do MPS forçou o adiamento para meados de maio de uma assembleia geral destinada a apreciar um plano de capitalização (incluindo um aumento de capital de € 3 mil milhões), assim contrariando o presidente do Conselho de Administração chegado em 2012, Alessandro Profumo, que defendia a imperiosa necessidade de a operação ser concluída este mês para poder prosseguir sem maiores sobressaltos o seu plano de reestruturação (condicionalidade de que depende a aprovação de novas ajudas estatais por parte da Comissão Europeia). Um conflito que coloca o governo italiano numa posição muito difícil, designadamente ao poder ser obrigado a assumir uma nacionalização – as condições de aprovação pela Comissão Europeia da ajuda estatal de € 4,1 mil milhões recebida no início de 2013 indicam que o não pagamento de € 2,5 bilhões de euros até 2014 dará direito a que o Tesouro proceda a uma conversão parcial dos seus títulos em ações – não somente indesejada mas também completamente inoportuna neste momento em que o governo procura conter os multifacetados efeitos danosos associados à enorme dívida pública acumulada.



Este é realmente o ponto, o de um verdadeiro risco sistémico em potência. 
Objeto de uma investigação judicial sobre a referida aquisição do “Antonveneta”, impactado por perdas estimadas em mais de € 700 milhões em operações especulativas de alto risco previamente ocultadas às autoridades, descredibilizado pelo seu incumprimento das novas regras de capital exigidas pelos reguladores europeus, fortemente atingido pela crise da dívida soberana em razão da sua detenção de um grande número de títulos do governo italiano (€ 25,8 mil milhões em final de 2012) e enfraquecido por anos de crise económica (2013 foi o terceiro ano consecutivo de prejuízos, após os € 3,2 de 2012 e os € 4,7 de 2011), o terceiro maior banco italiano em ativos poderá ser o rastilho de uma explosão descontrolada no país cuja dimensão dos bloqueios financeiros e institucionais (vejam-se acima os recentes e elucidativos gráficos sobre o peso dos non performing loans e das rigidezes em presença, divulgados por John Authers no site do “Financial Times” juntamente com uma referência ao MPS como “de maior risco do que o ‘Bankia’ de Espanha, que teve de ser resgatado”) mais parece apontar para que venha a ser aquele onde o futuro do Euro e da própria União Europeia mais seriamente se jogarão nos tempos mais próximos...

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