domingo, 12 de janeiro de 2014

“QUALQUER DIA, NÃO HAVERÁ GENTE DESQUALIFICADA”



O título acima bem poderia identificar a moção ou o que quer que seja apresentada pela Juventude Centrista em Oliveira do Bairro, defendendo a regressão da escolaridade obrigatória dos 12 para os 9 anos.
Esta imbecilidade de fazer regredir a história pode ser antes de mais interpretada como um sinal de classe e da incomodidade dos jotinhas centristas, alarmados não com os riscos do abandono escolar, mas antes com a obrigação de acolher gente cada mais qualificada. Bem podem os centristas fazer de conta que dão ares de democracia-cristã empenhada no bem estar social dos portugueses, dos idosos e de outros desprotegidos. Mas a verdade de classe vem sempre ao de cima. Até porque não se trata apenas de um desarrincanço de jovens betinhos. A ideia é apadrinhada por vários secretários de Estado afetos ao CDS. E por isso ganha uma outra expressão.
E cá vai a minha interpretação. A desvalorização interna nominal a que a estratégia da Troika, apadrinhada pela maioria (a cena dos deputados da maioria recebendo a delegação do Parlamento Europeu, denunciando os excessos da Troika, é hipocrisia no seu esplendor), submeteu a sociedade portuguesa contribuiu em primeira linha para rebaixar a remuneração da força de trabalho jovem e qualificada. Ainda esta semana tive conhecimento que há hoje no mercado de trabalho um novo referencial, o IA (indexante de apoio social) e que a remuneração de jovens qualificados é calculada segundo múltiplos desse IA. Soube, por exemplo, que a EMBRAER recruta jovens engenheiros qualificados por cerca de dois IA, o que aponta para pouco  mais de 800 euros brutos.
Ora este rebaixamento é incómodo e uma chatice para acomodar as expectativas criadas junto da população jovem, acenando-lhe com o elevado retorno do investimento em educação. Assim sendo, segundo os jotinhas centristas e seus mentores, valerá mais a pena fazer regredir a escolaridade obrigatória, e até se possível rebaixar o múltiplo de IA de referência. Afinal é coerente com o empobrecimento a que o país foi punitivamente submetido. Nada perturbará jotinhas tão afoitos. Afinal, na medida em que uma grande parte deles entrará rapidamente no círculo das cumplicidades com o sistema financeiro, e alguns deles até poderão renovar a caterva de secretários de Estado e de chefes de gabinete, para eles o múltiplo será de mais do que dois IA.
Mas que corja!

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