segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

LOBBIES CIENTÍFICOS?



Procurei informalmente alguma informação para tentar compreender o que se passa no universo da ciência em contexto de cortes brutais de financiamento público.
O que parece haver é uma luta algo surda entre grupos científicos, travada em torno do reconhecimento entre pares, medido pelo nível de publicações. Mais propriamente entre o grupo associado às ciências da vida, no qual pontuam instituições como a Fundação Champalimaud e a Fundação Calouste Gulbenkian, e outras áreas científicas como as engenharias, por exemplo.
Acontece que, pelos padrões de publicação nacionais, a excelência das ciências da vida traduz-se em posições claras de supremacia, quando comparadas com as restantes áreas científicas. É neste caso interessante constatar que Fundações privadas como a Champalimaud e a Gulbenkian aparecem a concorrer pela sua excelência inequívoca com instituições públicas e ao que parece com poder de lobby bem forte.
Mas a comparação anterior tem que se lhe diga. Uma comparação possível e mais justa, entenda-se, será comparar os padrões de publicação das ciências da vida e das engenharias, por exemplo, respetivamente com as médias europeias e internacionais dos dois grupos científicos. Ora, segundo informação que recolhi, a posição parece inverter-se: as engenharias publicam mais e melhor em relação à média internacional, sucedendo o contrário para as ciências da vida. Por outras palavras, a comparação entre os dois grupos científicos é enviesada pelo facto desta área científica ter melhores condições de publicação de investigação.
Do ponto de vista regional (Norte), a questão é tudo menos simples de interpretar. O grupo das ciências da vida (I3B’s no Minho, IPATIMUP, IBMC, INEB e Faculdade de Medicina) constitui uma das excelências da Região. Pode sofrer a penalização do lobby Fundações, mas beneficia do enviesamento atrás referido. Por sua vez, as engenharias constituem o domínio com translação mais promissora para o tecido produtivo e estão a ser penalizadas por duas vias – o lobby das Fundações e o enviesamento de condições de publicação.
Há uns anos dizia-se que a política científica portuguesa era traçada num corredor do Instituto Superior Técnico. Parece que o peso se transferiu para outras paragens.
Novos episódios se avizinham.

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