Procurei informalmente alguma informação para tentar compreender o que se passa no universo da ciência em contexto de
cortes brutais de financiamento público.
O que parece haver é uma luta algo surda entre
grupos científicos, travada em torno do reconhecimento entre pares, medido pelo
nível de publicações. Mais propriamente entre o grupo associado às ciências da
vida, no qual pontuam instituições como a Fundação Champalimaud e a Fundação Calouste
Gulbenkian, e outras áreas científicas como as engenharias, por exemplo.
Acontece que, pelos padrões de publicação
nacionais, a excelência das ciências da vida traduz-se em posições claras de
supremacia, quando comparadas com as restantes áreas científicas. É neste caso
interessante constatar que Fundações privadas como a Champalimaud e a
Gulbenkian aparecem a concorrer pela sua excelência inequívoca com instituições
públicas e ao que parece com poder de lobby
bem forte.
Mas a comparação anterior tem que se lhe diga. Uma
comparação possível e mais justa, entenda-se, será comparar os padrões de
publicação das ciências da vida e das engenharias, por exemplo, respetivamente
com as médias europeias e internacionais dos dois grupos científicos. Ora,
segundo informação que recolhi, a posição parece inverter-se: as engenharias
publicam mais e melhor em relação à média internacional, sucedendo o contrário
para as ciências da vida. Por outras palavras, a comparação entre os dois
grupos científicos é enviesada pelo facto desta área científica ter melhores condições
de publicação de investigação.
Do ponto de vista regional (Norte), a questão é
tudo menos simples de interpretar. O grupo das ciências da vida (I3B’s no
Minho, IPATIMUP, IBMC, INEB e Faculdade de Medicina) constitui uma das excelências
da Região. Pode sofrer a penalização do lobby Fundações, mas beneficia do
enviesamento atrás referido. Por sua vez, as engenharias constituem o domínio com
translação mais promissora para o tecido produtivo e estão a ser penalizadas por
duas vias – o lobby das Fundações e o enviesamento de condições de publicação.
Há uns anos dizia-se que a política científica
portuguesa era traçada num corredor do Instituto Superior Técnico. Parece que o
peso se transferiu para outras paragens.
Novos episódios se avizinham.
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