(Haydée Sabéran)
Devo confessar que não é propriamente a ascensão
galopante de partidos como a Frente Nacional (FN) de Marine Le Pen em França (a
nível de toda a França e não apenas em territórios acantonados) que me
impressiona e incomoda. O que me perturba é a capacidade que a FN tem manifestado
de penetração nos meios operários, ocupando o espaço eleitoral anteriormente
ocupado pelo Partido Comunista Francês.
Graças ao Le Monde des Livres de ontem cheguei a duas novas
leituras que a viagem a Bruxelas e o ritual de visita a uma das minhas
livrarias de estimação, Tropismes, na Galérie des Princes proporcionaram, com duas novas compras.
Bienvenue à Hénin-Beaumont. Reportage sur un Laboratoire du Front National da jornalista do Libération em risco de extinção, publicado pela La Découverte,
Cahiers Libres, é uma obra que se lê de um jato e tem materiais cruciais para
tentar superar esta minha incomodidade com a existência de uma direita proletária.
Hénin et
Beaumont é um pequeno município de uma das mais importantes bacias
mineiras de França, no qual está eminente o acesso ao poder municipal da FN,
através de um elemento do Conselho Municipal já em representação da FN. Estamos
por isso perante a ocupação por parte da FN de um território de claríssima
origem operária, substituindo-se aos partidos operários como referencial político,
ao mesmo tempo que as forças de esquerda se dividem presentemente entre quatro
forças.
Na reportagem do Le Monde des Livres, o candidato presumivelmente ganhador da FN,
Steeve Briois explica sucintamente o seu êxito potencial nas próximas eleições
com esta frase lapidar tal é o seu significado: “Estamos próximos das pessoas, como a
esquerda antes o fazia, quando era ainda o partido de Jaurés.”
Ora toma que é para compreenderes o que se passa.
O jornal documenta ainda essa realidade com testemunhos de potenciais votantes
que declaram que, fazendo-o, não sentem qualquer forma de incompatibilidade ou
contradição com o voto dos seus pais ou avós operários e resistentes.
Emerge pois uma direita proletária explicando a
crescente dimensão nacional da FN, partido que desenvolve uma prática política
de rua que é também um novo aspeto a ter em conta na sua ascensão galopante. A
rua deixou de ser património exclusivo das manifestações de esquerda.
Vale a pena pensar no que significa “estamos próximos
das pessoas” e sobretudo compreender que em grande medida a construção
enviesada e à socapa do projeto europeu é um grande responsável pelo afastamento
criado. O aviso está aí.
A outra leitura – Peuples et Populisme de
Catherine Colliot-Thélène e Florent Guénard fica para outra oportunidade.
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