(Eva Vazquez para o El País)
Nicolau Santos, sábado, Jornal
Expresso, “O nosso modelo é o “pooreconomics”
“ (…) Nos anos 80, a política económica de
desregulamentação prosseguida por Ronald Reagan ficou conhecida por
Reaganomics. Na sua base existia a ideia de que mercados onde o Estado não
interviesse criariam muito mais riqueza. Agora o que os senhores da Troika nos
propõem é uma política que assenta na ideia redentora de que quanto mais a
população empobrecer, melhor estará o país. É seguramente uma nova e genial
teoria económica que deveria ser cunhada de “Poornomics”. Ou então como a máquina
de fazer pobres, parafraseando Valter Hugo Mãe (…).”
Vale a pena, entretanto, analisar a que relação
de forças corresponde a “poornomics”
e de que forma o pensamento económico contribuiu para a sua instalação, sem
pensamento alternativo a travar a sua difusão.
Pablo Meramendi, sábado, La Cuarta Página, El País, “Devorar el futuro”
“(…) Temos hoje muito mais informação sobre as estratégias económicas
que fomentam distintas formas de crescimento sustentável e as suas consequências.
A chave consiste em atribuir prioridade ao investimento relativamente ao
consumo. O investimento significa fazer hoje um esforço para recolher amanhã os
frutos e implica concentrar os recursos disponíveis em educação, investigação,
desenvolvimento e serviços que facilitem quer uma melhor correspondência entre
oferta e procura de trabalho, quer a integração da mulher no mercado de
trabalho. Consumo significa dedicar uma parte do orçamento a transferências de
rendimento para serem utilizadas a curto prazo. Os países que combinam níveis
elevados de consumo e de investimento, como os escandinavos, geram crescimento
e igualdade. Os que priorizam o investimento em relação ao consumo, como os
EUA, geram crescimento à custa da igualdade. Mas os que tendem a priorizar o
consumo, sobretudo se é pouco progressivo e baseado na captura do setor público
por parte de interesses bem organizados, geram desigualdade e ineficiência. Itália
e Espanha são dois exemplos desta última combinação letal para gerar um
crescimento sustentado. (…)”
Esta parece ser também a chave para a
encruzilhada em que se encontra a economia portuguesa. Os elementos disponíveis
dizem-nos que o crescimento das exportações dos últimos tempos assenta em
capacidade produtiva disponível que foi reencaminhada para o mercado externo,
reencaminhamento esse que emerge como um forte determinante das exportações. A
interrogação resulta do facto de ser necessário reforço da capacidade produtiva
(ou seja novo investimento) para aguentar o ritmo conseguido de crescimento. E
aí algumas interrogações persistem, o que vai exigir o início atempado de mais
um ciclo de incentivos ao investimento proporcionados pelos Fundos Estruturais.
Vasco Pulido Valente, sábado,
Jornal Público, “Seguro serve”
“ (…) Mas não acredito que alguém pudesse substituir Seguro com uma
decisiva vantagem para o PS. A social-democracia acabou, apesar dos berros de
meia dúzia de alucinados do PSD. Não existe social-democracia que resista à
situação atual na Europa, para já não falar em Portugal. O PS acabará por se
transformar, à falta de melhor, num partido de resistência à mudança e, como
desde 1975 o PC, vai nos quinze anos mais próximos defender o “Estado social” e
outros privilégios de uma classe média empobrecida e de trabalhadores sem
força. Embora condenado e curto, este papel é um papel nobre. (…)”
Os tempos estão difíceis para contrariar o pessimismo
de VPV.
José Pacheco Pereira, sábado, Jornal
Público, “A Europa que nunca se debate”
“ (…) É exactamente porque o debate europeu é
subvalorizado que ninguém cuida das posições dos candidatos. Paulo Rangel é o
mais europeísta de qualquer candidato europeu até agora. Basta assistir às suas
intervenções e ao que escreve, por exemplo no Público, para ver como ele é um
crítico da própria ideia de soberania e independência, e é favorável a uma
deslocação de muito do processo decisório do Parlamento português para instâncias
europeias, como, aliás, está a acontecer já com o direito de veto por Bruxelas
do Orçamento português no âmbito do Pacto Orçamental, ou seja, sem ser em
situação de “emergência financeira”, como normalidade. Os portugueses são
cuidadosamente mantidos à parte de um processo de minimização daquilo que é a
função fundamental de um parlamento numa democracia, votar o Orçamento. Foi a
reivindição de “no taxation with no representation” que iniciou a guerra da
independência americana contra os ingleses. (…)”
Só a perspicácia de JPP para identificar a
contradição que revestirá a próxima luta política interna nas próximas
europeias. Os cabeças de lista Paulo Rangel e Francisco Assis são talvez os representantes
mais europeístas de partidos que não se apresentam como tais ao eleitorado em
matéria de desvalorização do parlamento nacional. Isto diz bem do nó cego a que
fomos conduzidos.
Teresa de Sousa, domingo, jornal Público,
“Somos todos sociais-democratas”
“(…) Mas talvez o lado mais interessante deste fim-de-semana político
seja a forma descontraída com que Pedro Passos Coelho resolver atestar a sua
fidelidade à social-democracia, em tudo ou quase tudo diz respeito ao modelo
social europeu. Fê-lo para responder aos seus críticos mais severos no interior
do partido. Com um à-vontade um pouco irritante, na medida em que não era,
claramente, essa a sua visão ideológica quando conquistou a liderança do PSD. Não
se pode ser tudo ao mesmo tempo. Liberal nuns dias, social-democrata noutros,
mesmo que a crise ocidental, europeia e portuguesa baralhe as convicções e as
ideologias, como sempre acontece em momentos de ruptura como aquele que estamos
a viver. E a verdade é que a social-democracia está ela própria numa crise tão
profunda que qualquer um é livre de se reclamar dela.(…)”
As cambalhotas ideológicas de gente como Passos
Coelho estão em direta correspondência ao esvaziamento de pensamento do qual a
social-democracia se deixou aprisionar, sobretudo a partir do momento em que a
chamada “terceira via” chegou ao poder.
Paulo Trigo Pereira, domingo, jornal
Público, “Portugal não é uma folha em branco”
“ (…) A
primeira proposta política para a saída da crise é travar a austeridade já. Se
isso significar que se faz a redução do défice não com mais sacrifícios sobre
os portugueses, mas antes “exportando” a austeridade, ou mutualizando a dívida,
ou por via de um perdão parcial da mesma, não poderei estar mais de acordo. O
problema é que, à excepção da primeira e de forma limitada, as restantes não são
politicamente exequíveis. A Europa está mais perto de uma confederação do que
de uma federação política, e a aversão ao programa cautelar em Portugal mostra
isso mesmo. Cada país está praticamente entregue a si próprio e só em caso de
emergência o BCE, com a ajuda da Comissão Europeia, vira em seu socorro. Se,
pelo contrário, significar o caminho da não redução do défice então isso equivale
tacitamente à escolha pela saída do euro, o que é também uma estratégia respeitável,
mas que ainda não foi suficientemente estudada por ninguém. (…)
A segunda proposta política, a da folha em branco, é a que tem sido seguida
pelo Governo. Abstraindo da situação real do país e da sua história, consiste
numa visão apriorística do que deve ser o peso do Estado na economia para que a
economia floresça. (…)”
É isto que estará em jogo nos próximos tempos. A
primeira proposta exige uma construção minuciosa e uma reunião de sensibilidades
que transcendem o espectro normal do PS.
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