segunda-feira, 30 de março de 2015

A CONFIRMADA NATUREZA DECADENTE DE HOLLANDE



Se há figura internacional que tem sabido comprovar à saciedade a rapidez, e sobretudo a amplitude, com que se pode passar de bestial a besta nestas nossas mediatizadas sociedades, ela é a do presidente francês François Hollande.

O homem até tinha uma imagem pública de alguma credibilidade e seriedade, fruto de uma carreira aparelhisticamente acinzentada mas de grande dedicação ao Partido e também da compreensão com que era olhada uma vida pessoal ao lado e à sombra da insuportável Ségolène. Ademais, e em razão de toda a insanidade que marcou a política europeia daqueles anos dominados pela chamada crise das dívidas soberanas, o surgimento da candidatura de um “homem normal” – até por vir na decorrência das anormalidades desviantes associadas ao favorito da sua área política (DSK) – parecia prometer diferenças e melhoras e toda uma vasta gente, à esquerda ou simplesmente à procura de alguma razoabilidade, embarcou na esperança em torno da combatividade e mudança que Hollande prometia.

Ora afinal, como diz a canção, havia outro e esse outro que tão depressa veio mostrar a sua falta de visão e de mínimos olímpicos de coragem e verticalidade mais não era do que um produto em tudo equivalente àquele “petit Nicolas” que o havia antecedido e pretende suceder-lhe em 2017 – pobre França!


François pôs-se de tal modo a jeito – o episódio do disfarce em motociclista para se deslocar a encontros amorosos com Julie “matou-o” definitivamente, embora esteja muito longe de ser uma simples exceção! – tornou-se o campeão das anedotas o principal protagonista dos humoristas por todo o país e um pouco por todo o lado.

Um dos cartunistas que mais aprecio pela sua eficácia na abordagem dos múltiplos tiros ao lado, manifestações de desorientação estratégica, evidências de ausência de rumo, desacertos e gafes de François é Kak (http://www.lopinion.fr) e, na sequência da desastrosa derrota do PS francês nas eleições departamentais que veio relançar Sarkozy e confirmar Marine Le Pen, justo é que se lhe consagre aqui algum espaço para recuperar resumidamente algumas das criativas habilidades – o recrutamento de Macron e a música celestial em torno das reformas quer dirigida à Europa quer às instâncias partidárias internas, as negociações com Putin sempre à boleia de Merkel, o “espírito do 11 de janeiro” que garantiu algum tempo mais de imobilismo e levou até à exasperação o discurso da unidade patriótica, a incipiência da chamada política das cidades e da correspondente reforma banlieue, a desajeitada tolerância para com os críticos partidários internos (frondeurs) e os anúncios de retoma do crescimento – que mais marcaram os últimos meses de exercício deste novo anti-herói político do século XXI que ainda vai a pouco mais de meio do seu mandato...







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