O calvário (visto de fora, não percecionado pelo
próprio) pelo qual Pedro Passos Coelho (PPC) vai carpindo a sua peculiar
maneira de entender o exercício da governação prossegue e isso não é
seguramente saudável para um país que precisa de ânimo para recuperar e
orientar o seu futuro.
Valia a pena reunir em volume toda a literatura
que vem sendo produzida sobre o tema, pois fazendo-o teríamos seguramente as
bases de um ensaio sobre a invertebrada (que Unamuno referia sarcasticamente a
propósito dos portugueses) forma portuguesa de compreender as exigências da
governação. Desde a perspetiva de José Pacheco Pereira sobre o que ele pensa o
nó górdio da questão, o tipo de empresas e de cumplicidades que gira em torno
das lógicas e aparelhos partidários e o inside information quanto às benesses
do Estado, até à posição mais radical de Vasco Pulido Valente de erradicar de
vez as juventudes partidárias (a descrição do almoço com PPC é assassina),
fico-me por hoje nas teses de Pedro Adão e Silva (outro Pedro) sobre os vários
Pedros que conflituarão na personalidade de PPC. Dizia há pouco PAS no
Contraditório com Pedro Marques Lopes (ena tantos Pedros) que o Pedro cidadão imperfeito que PPC tão
humildemente quis fazer passar junto dos portugueses (não é mal pensado dada a
idiossincracia dominante) não pode coexistir com o Pedro
moralista que tantas vezes veio a terreiro para condenar
portugueses pretensamente a viver acima das suas possibilidades e incapazes de
compreender a natureza redentora e purificante dos sacrifícios impostos em nome
do pretenso interesse nacional de recuperar o acesso aos mercados. PAS defende
que o conflito entre estes dois Pedros é agravado pela chegada ao processo do Pedro chico-esperto que tenta em vão negar
o conflito entre os dois primeiros.
Cá para mim o problema é outro, é a existência de
um Pedro abstracionista que parece governar desenraizadamente,
isto é, como se cada decisão fosse produzida num cenário vazio de pessoas,
sentimentos, dramas pessoais, dificuldades, assimetrias de acesso à informação
e aos favores do poder e aqui aceito a tese de VPV que essa indiferença e
procura desesperada pela abstração é muito construída nas trajetórias dos
jotinhas, onde aprendem a representar um país que não é o país das pessoas e
das tragédias pessoais.
Por mais que PPC o queira negar, cidadãos
imperfeitos existem mas não podem ser moralistas. Chicos-espertos também
existem e a sociedade portuguesa está cheia deles. Mas governantes
abstracionistas são abjetos.
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