segunda-feira, 30 de março de 2015

COSTA A AQUECER OS MOTORES?


Estava anunciado como um “encontro com os militantes e simpatizantes do Distrito” e como visando demonstrar a unidade do PS em torno do seu Secretário-Geral. Decidi-me a passar pelo Rivoli a meio desta tarde para assistir ao vivo – tudo é sempre melhor e mais fidedigno assim, do futebol à música, do cinema ao teatro, das artes em geral à política!

Era afinal uma espécie de comício, com sala cheia e mobilizada q.b., embora sem qualquer traço visível daquelas manifestações de massas artificiais em que os grandes partidos se viciaram a um ponto que já raia o ridículo. Uma assistência interclassista, o que ainda constitui claramente uma das grandes forças do PS, e caras conhecidas para todos os gostos (incluindo mesmo os socialistas muito pouco praticantes, alguns senhores que a boa imagem do partido dispensaria de bom grado e certos críticos fervorosos de Costa em aparente fase de contrição reaproximadora), sem prejuízo de algumas faltas notadas e notórias (certamente por boas e por más razões). Duração adequadamente controlada por duas curtas intervenções dos dois responsáveis locais do PS (Distrital e Concelhia) e pelo foco no medido discurso final de António Costa.

Quanto à substância, não será wishful thinking dizer que Costa esteve genericamente bem. É visível que está a fazer a mão e que as mensagens ganham em afinação de conteúdo. Embora também que a denúncia e o balanço crítico da ação governativa estão largamente mais trabalhados do que a estratégia e a propositura. Sendo ainda que Costa já consegue transmitir um sentido de responsabilização contra o “passa culpas” e, sobretudo, que já revela uma força naquela tónica essencial que vai colocando no acordar da sociedade, na recusa da precariedade permanente, no combate à resignação e na ideia de devolução da esperança e da confiança aos portugueses. E parecendo-me certo que vencerá muito mais por aí do que pelo detalhe do cardápio programático que insistam em pô-lo a apresentar (da excessiva compreensividade da agenda para a década às medidas cansadas tipo IVA da restauração ou às improcedências oposicionistas avulsas tipo teto ao IMI ou levantamento de penhoras), Costa não deveria descurar o envelope principal do “como” que terá de embrulhar todo o seu argumentário – o crescimento, o emprego, a dívida, o Estado Social, a agenda europeia, etc. –, quer corrigindo alguns erros grosseiros que lhe vendem e tem natural tendência a repetir quer articulando mais judiciosamente o seu suposto mapa alternativo dos possíveis. Mas, dificuldades e impossíveis à parte, esperemos apenas que ainda não tenha chegado a hora por ele definida para esmiuçar a um tal ponto...

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