quinta-feira, 12 de março de 2015

EDMUND MALINVAUD



Aos 91 anos, Edmund Malinvaud deixou-nos no dia 7de março. O economista francês que dirigiu durante alguns anos o INSEE (1974–1987), instituição prestigiada no domínio das estatísticas económicas e análises empíricas do que poderíamos chamar a economia aplicada e foi Professor do  Collège de France (1988–1993), fez parte da minha formação macroeconómica, sobretudo nos domínios da compreensão dos desequilíbrios no mercado de trabalho.
Eternamente candidato a um Nobel de Economia, que haveria de nunca chegar, Manlinvaud tinha a especial característica de ser um economista matemático de grande rigor, mas nunca sem perder de vista as evidências empíricas e os apelos explicativos da realidade económica. Matemático rigoroso mas não um formalista da economia, Malinvaud interessou-me em tempos sobretudo pela sua explicação do desemprego com base no comportamento da rendibilidade do capital e da insuficiência de investimento que uma baixa rendibilidade do capital pode determinar. Esta posição é por alguns economistas de esquerda considerada algo herética, sobretudo porque pode conduzir à conclusão que um salário real demasiado elevado face ao comportamento da produtividade pode explicar a insuficiência do investimento e consequente do desemprego.
Mas Malinvaud nunca explicou a insuficiência e investimento e o desemprego associado como apenas o resultado de excessos negociais conducentes a salários reais desproporcionados, realidade hoje aliás nos antípodas do que o pós-crise 2007-2008 nos trouxe. A prova é a sua participação ativa em declarações pioneiras de relançamento do investimento em larga escala europeia para atingir a massa crítica de recursos necessários para combater o desemprego.
Por ironia do destino, a Europa tem hoje uma inequívoca insuficiência de investimento e não seguramente por força de salários reais desproporcionados, antes pelo contrário pelo rebaixamento de procura que a desigualdade entre o capital e o trabalho determina, penalizando este último.
Mas talvez o que mais distinga a obra de Malinvaud é a equilibrada relação entre a economia e a econometria, de alguém que domina os dois instrumentais e de cuja interação retira os melhores aproveitamentos possíveis.
Um dia destes talvez regresse à "Voies de la recherche macroéconomique", 1991, uma das suas últimas obras que aguarda na estante uma segunda leitura.

Sem comentários:

Enviar um comentário