Aos 91 anos, Edmund Malinvaud deixou-nos no dia 7de março. O economista francês que dirigiu durante alguns anos o INSEE (1974–1987),
instituição prestigiada no domínio das estatísticas económicas e análises empíricas
do que poderíamos chamar a economia aplicada e foi Professor do Collège de France (1988–1993), fez parte da
minha formação macroeconómica, sobretudo nos domínios da compreensão dos
desequilíbrios no mercado de trabalho.
Eternamente candidato a um Nobel de Economia, que
haveria de nunca chegar, Manlinvaud tinha a especial característica de ser um
economista matemático de grande rigor, mas nunca sem perder de vista as evidências
empíricas e os apelos explicativos da realidade económica. Matemático rigoroso
mas não um formalista da economia, Malinvaud interessou-me em tempos sobretudo
pela sua explicação do desemprego com base no comportamento da rendibilidade do
capital e da insuficiência de investimento que uma baixa rendibilidade do
capital pode determinar. Esta posição é por alguns economistas de esquerda
considerada algo herética, sobretudo porque pode conduzir à conclusão que um
salário real demasiado elevado face ao comportamento da produtividade pode
explicar a insuficiência do investimento e consequente do desemprego.
Mas Malinvaud nunca explicou a insuficiência e
investimento e o desemprego associado como apenas o resultado de excessos
negociais conducentes a salários reais desproporcionados, realidade hoje aliás
nos antípodas do que o pós-crise 2007-2008 nos trouxe. A prova é a sua
participação ativa em declarações pioneiras de relançamento do investimento em
larga escala europeia para atingir a massa crítica de recursos necessários para
combater o desemprego.
Por ironia do destino, a Europa tem hoje uma
inequívoca insuficiência de investimento e não seguramente por força de salários
reais desproporcionados, antes pelo contrário pelo rebaixamento de procura que
a desigualdade entre o capital e o trabalho determina, penalizando este último.
Mas talvez o que mais distinga a obra de
Malinvaud é a equilibrada relação entre a economia e a econometria, de alguém
que domina os dois instrumentais e de cuja interação retira os melhores
aproveitamentos possíveis.
Um dia destes talvez regresse à "Voies
de la recherche macroéconomique", 1991, uma das suas últimas obras
que aguarda na estante uma segunda leitura.
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