Nunca fui propriamente nem um fanático das viagens aéreas
(o meu curriculum só integra três viagens intercontinentais aos EUA e o longo
longo curso é coisa que já não tenho tempo, nem bolsa e nem vontade de
experimentar), nem um securitário em último grau das mesmas. Mas sempre tive
respeito pelos que, recordo-me agora, como o futebolista europeu Berkamp, que
se via e desejava para evitar as viagens de avião a que era obrigado a
realizar, optando frequentemente por meios de transporte alternativos,
renunciando noutros casos ao próprio jogo.
Os últimos tempos geram compreensivelmente um outro olhar
pela segurança aérea, dada a grande concentração de catástrofes em 2014. E não
é uma concentração qualquer. É uma concentração de mistérios adensados e não há
pior fator de disseminação de insegurança que o adensamento de mistérios que
prolongam por períodos infinitos até à sua explicitação.
Em aparente contradição com a minha baixíssima
intensidade de deslocações por via aérea, dei comigo nos últimos dias a
mergulhar em literatura recente sobre a evolução da tecnologia da aviação
comercial, analisando-a de um ponto de vista cujo interesse vai muito para além
da perspetiva securitária, que é o da relação entre a evolução tecnológica e a
intervenção humana de uma das profissões que é foco de estudo de toda a
literatura sobre formação profissional, os pilotos de aviação.
E conclui na linha de alguns artigos sobre a matéria que
a prodigiosa evolução das tecnologias de informação e comunicação aplicada à
navegação de máquinas prodigiosamente tão complexas coloca hoje um problema
sério de saber qual é a real capacidade da intervenção humana na resolução de
problemas induzidos por erros ou avarias de computação. É um tema apaixonante e
vale a pena ser seguido em profundidade.
Mas, invertendo todo o sentido da discussão que estava a
ser travada, a tragédia do voo Barcelona-Dusseldorf vem repor a ideia de que,
por mais evoluída a tecnologia e a perspetiva de segurança que ela possibilita,
a debilidade humana não desaparece. A mais que provável depressão do copiloto
alemão ajuda-nos tragicamente a compreender que a revolução tecnológica não nos
deve fazer esquecer a centralidade das insuficiências humanas, a nossa
fragilidade. Estou em crer que em próximas viagens, mesmo que de curta duração,
não ficarei indiferente ao fácies dos membros da tripulação com que por vezes
nos cruzamos.
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