quinta-feira, 5 de março de 2015

JUNCANDO...


Há muito quem inveje o lugar de Juncker à frente da Comissão Europeia. E há também muito quem entenda que se trata de um “homem bom” e “amigo de Portugal e dos portugueses”, do que não tenho grandes razões para acreditar ou duvidar. E há ainda muito quem considere que o dito interpreta na perfeição o papel de conciliador, mediador e negociador que lhe cumpre por função numa Europa feita disso mesmo. Será! No que me toca – feitios são feitios e gostos não se discutem! –, estando completamente de acordo quanto a que antes intermediário entre interesses do que capacho dos mais fortes (como foi o caso do antecessor Durão), pagava para não ter de fazer as tristes figuras a que a criatura se presta quase quotidianamente: afirmar hoje para contradizer, ou amaciar, amanhã, incluindo aqueles ridículos exercícios de machismo falante contra alguns, nem sempre nominalmente nomeados para salvaguardar os necessários recuos, logo seguidos na primeira oportunidade dos não menos ridículos beijos e abraços que já constituem a sua imagem de marca – mas ainda bem que há quem se pele por ser “pau para toda a colher”...

Desta vez, Juncker tinha declarado ao “El País” que a Espanha e Portugal têm sido muito exigentes em relação à Grécia, contrariando assim os respetivos responsáveis nacionais que juravam terem apenas pretendido conhecer os termos do acordado no Eurogrupo. Pois, logo por azar dos Távoras, o presidente da Comissão teve de marcar presença em Madrid na cimeira tripartida (França, Espanha e Portugal) sobre novas interconexões energéticas e, nesse quadro, de se encontrar com Rajoy e Passos ou, como ele gosta de dizer, com Mariano e Pedro – estes, entre o amuado e o zangado, tê-lo-ão confrontado com aquelas declarações e sugerido um “esclarecimento público” aproveitando a conferência de imprensa conjunta. E assim fez sem tergiversar, como lhe é exigido, por quem sois...

Registe-se, pois, o que o personagem tinha dito sem o dizer ou o que a figura queria dizer quando disse o que disse. Em francês, para evitar riscos de má tradução:
· “Au sujet de l’Espagne et du Portugal, j’ai dit que deux pays que avec bravoure ont mis en application des programmes d’ajustement – généraux pour le Portugal, plus particuliers pour l’Espagne – étaient en droit d’attendre que d’autres pays étant dans une situation analogue fassent les mêmes efforts.
· “Moi je n’ai pas observé au cours des dernières semaines que le Portugal et l’Espagne auraient un plan diabolique qui consisterait à faire tomber le gouvernement de monsieur Tsipras, donc je n’ai pas de commentaires à faire à ce sujet. Si j’avais eu l’impression que Mariano et Pedro nourriraient de si détestable plan je serais intervenu, mais comme ils sont de bonnes intentions je n’avait pas à le faire.

Notem que o dicionário online de português indica que “juncar” significa “tapar ou cobrir de juncos”, exemplificando com a modelar frase “folhas mortas juncam o solo”. Mas estarei eu a perder qualidades ao dispensar algum tempo a minudências destas?

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