Estava a ver o filme há muito tempo. A esquerda tem de facto uma propensão
para o suicídio precoce e não assistido que dói e manifesta-se a todo o
momento. Parecem macaquinhos amestrados e pavlovianos. Basta alguém
ardilosamente produzir um estalido de dedos e começa imediatamente o toca a música.
Neste momento, a quem interessa vivamente o lançamento do isco das eleições
presidenciais? Não é preciso ser adiantado mental para compreender que o
assunto interessa decididamente à atual maioria que se prepara, mesmo em
desconchavo de coligação, para o afrontamento eleitoral com o simples argumento
de que o PS nos deixou na bancarrota com Sócrates e Teixeira dos Santos
desavindos e que a maioria nos deixa com “cofres cheios” e taxas de juro
convidativas a mais endividamento, tudo isto mais algumas manobras de diversão.
Ora a discussão precoce das eleições presidenciais é uma dessas manobras de
diversão. Quanto mais bagunçada existir nesta matéria menos tempo e matéria
sobeja para desmontar profundamente toda a máquina da governação dos “cofres
cheios” e das baixas taxas de juro.
À esquerda parece-me que só o PCP compreendeu esta evidência não
alimentando nem com uma vírgula ou declaração de circunstância a bagunçada em
curso. Não foi essa a opção do PS, pois deveria ter sido mais taxativo e
combater pela raiz a precoce discussão. Mas quem não conhece a incontinência
verbal de muitos e prezados elementos da malta socialista. Foi só vê-los a
agitar personalidades presidenciáveis, em catadupa trágica de desfocagem do que
é verdadeiramente essencial, a construção de uma alternativa com a qual a
maioria dos portugueses se identifique.
No caso vertente, o meu conhecimento real de Henrique Neto limita-se a uma
reunião de trabalho no domínio da prospetiva da Região Centro organizada para
os trabalhos do Plano Regional de Ordenamento do Território do Centro,
concebida e dinamizada pela equipa do Professor Eduardo Anselmo Castro da
Universidade de Aveiro. Fluente, fortemente opinativo, interveniente, sempre a
recordar as suas guerras na Região e no país, Henrique Neto não acrescentou nada
nesse encontro mais de perto ao que eu conhecia dos seus escritos e da bondade
com que o jornalismo nacional, económico e não só, o trata sem talvez o escrutínio
que a sua procura de visibilidade e notoriedade justificaria.
Cá para mim, sem elementos de informação adicionais, vale a minha apreciação
muito peculiar de que fico sempre de pé atrás quando vejo alguém, que se
proclama de empresário, sedento de notoriedade e com fluência típica de
comentador político torrencial. Cá bem para mim as competências de um empresário
que perscruta, identifica e concretiza oportunidades, mobilizando recursos tangíveis
e intangíveis cuja combinação não é automática e que só a competência
empresarial sabe fazer, não é muito compatível com tal procura de notoriedade. Uma
de duas ou já deixou de ser empresário ou então é bluff e de empresário só tem
o nome. Para além disso, há o efeito indireto de ser apoiado por Medina
Carreira e isso basta-me, abrenúncio. Uma personalidade desta natureza vende
momentos de visibilidade por qualquer coisa.
Finalmente, a proliferação de aves raras, canoras, roedoras, sonsas e
outras que tais na precoce caravana presidencial explico-a por um argumento
simples. O trágico fim de mandato de Cavaco encarregou-se de eliminar qualquer
resquício de importância e seriedade que pode atribuir-se ao exercício
presidencial. Nesse contexto, toda a ave que se julgue mais próxima da
desvalorização em curso do cargo ultrapassa limiares mínimos de autocensura e
de se ver ao espelho e aparece. E abriu a caça aos precoces candidatos
presidenciais, com ou sem licença.
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