terça-feira, 24 de março de 2015

DISPARATE PRESIDENCIAL



Estava a ver o filme há muito tempo. A esquerda tem de facto uma propensão para o suicídio precoce e não assistido que dói e manifesta-se a todo o momento. Parecem macaquinhos amestrados e pavlovianos. Basta alguém ardilosamente produzir um estalido de dedos e começa imediatamente o toca a música. Neste momento, a quem interessa vivamente o lançamento do isco das eleições presidenciais? Não é preciso ser adiantado mental para compreender que o assunto interessa decididamente à atual maioria que se prepara, mesmo em desconchavo de coligação, para o afrontamento eleitoral com o simples argumento de que o PS nos deixou na bancarrota com Sócrates e Teixeira dos Santos desavindos e que a maioria nos deixa com “cofres cheios” e taxas de juro convidativas a mais endividamento, tudo isto mais algumas manobras de diversão. Ora a discussão precoce das eleições presidenciais é uma dessas manobras de diversão. Quanto mais bagunçada existir nesta matéria menos tempo e matéria sobeja para desmontar profundamente toda a máquina da governação dos “cofres cheios” e das baixas taxas de juro.
À esquerda parece-me que só o PCP compreendeu esta evidência não alimentando nem com uma vírgula ou declaração de circunstância a bagunçada em curso. Não foi essa a opção do PS, pois deveria ter sido mais taxativo e combater pela raiz a precoce discussão. Mas quem não conhece a incontinência verbal de muitos e prezados elementos da malta socialista. Foi só vê-los a agitar personalidades presidenciáveis, em catadupa trágica de desfocagem do que é verdadeiramente essencial, a construção de uma alternativa com a qual a maioria dos portugueses se identifique.
No caso vertente, o meu conhecimento real de Henrique Neto limita-se a uma reunião de trabalho no domínio da prospetiva da Região Centro organizada para os trabalhos do Plano Regional de Ordenamento do Território do Centro, concebida e dinamizada pela equipa do Professor Eduardo Anselmo Castro da Universidade de Aveiro. Fluente, fortemente opinativo, interveniente, sempre a recordar as suas guerras na Região e no país, Henrique Neto não acrescentou nada nesse encontro mais de perto ao que eu conhecia dos seus escritos e da bondade com que o jornalismo nacional, económico e não só, o trata sem talvez o escrutínio que a sua procura de visibilidade e notoriedade justificaria.
Cá para mim, sem elementos de informação adicionais, vale a minha apreciação muito peculiar de que fico sempre de pé atrás quando vejo alguém, que se proclama de empresário, sedento de notoriedade e com fluência típica de comentador político torrencial. Cá bem para mim as competências de um empresário que perscruta, identifica e concretiza oportunidades, mobilizando recursos tangíveis e intangíveis cuja combinação não é automática e que só a competência empresarial sabe fazer, não é muito compatível com tal procura de notoriedade. Uma de duas ou já deixou de ser empresário ou então é bluff e de empresário só tem o nome. Para além disso, há o efeito indireto de ser apoiado por Medina Carreira e isso basta-me, abrenúncio. Uma personalidade desta natureza vende momentos de visibilidade por qualquer coisa.
Finalmente, a proliferação de aves raras, canoras, roedoras, sonsas e outras que tais na precoce caravana presidencial explico-a por um argumento simples. O trágico fim de mandato de Cavaco encarregou-se de eliminar qualquer resquício de importância e seriedade que pode atribuir-se ao exercício presidencial. Nesse contexto, toda a ave que se julgue mais próxima da desvalorização em curso do cargo ultrapassa limiares mínimos de autocensura e de se ver ao espelho e aparece. E abriu a caça aos precoces candidatos presidenciais, com ou sem licença.

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