(Frances Coppola)
Frances Coppola é uma blogger hiperativa e
militante, depois de como ela diz na sua apresentação no Coppola Comment trabalhar durante 17 anos para bancos e começar depois a
escrever sobre eles. Frances reparte a sua atividade entre o já referido
Coppola Comment e o Pieria, este último
institucionalmente mais reputado, pois envolve outros economistas como, por
exemplo, Jonathan Portes, diretor do National
Institute of Economic and Social Research do Reino Unido. A
hiperatividade de Frances é ilustrada por exemplo por ser escritora e cantora,
com outros dois blogues, o Singing is Easy,
dedicado à sua costela musical e o Still LIfe with Paradox,
onde escreve sobre coisas da vida e da moral.
Nos últimos dias de fevereiro passado, Frances assinou no Coppola Comment um artigo
que reproduz a sua conferência na Universidade de Manchester sobre as agruras
da macroeconomia em debate com o aqui repetidas vezes referido movimento crítico
de estudantes de economia daquela universidade, o Post-Crash
Economics Society.
Frances discute o enorme criticismo com que os
economistas e a economia em geral foram olhados após a crise de 2007-2008 e
sobretudo após a convicção generalizada de que afinal a turbulência não tinha
desaparecido das economias de mercado e que os economistas e bancos centrais não
tinham o domínio que pensavam que tinham dessa turbulência.
O que é curioso é que a acusação resulta de uma
compreensão errada do que cabe aos macroeconomistas fazer. Muita gente se
interrogou porque é que os economistas não foram capazes de prever o fenómeno
para o melhor combater. É uma abordagem errada ao problema. Os macroeconomistas
não são “forecasters”, embora muitos
deles se entreguem a tarefas pesadas de construção de modelos macro de suporte à
previsão macroeconómica e também muitos deles não resistam à tentação de se transformarem
em gurus da previsão para encanto de alguns papalvos ou do jornalismo económico
mais sensacionalista.
Mais do que uma falha dos economistas, Frances Coppola
tem razão quando defende que há sim uma falha clara da macroeconomia mais
corrente. E a falha não acontece porque ela não foi capaz de prever a exuberância
irracional (na feliz expressão de Schiller) dos mercados financeiros que
precipitou 2007-2008. Há falha porque os macroeconomistas não incorporaram os
ensinamentos da história económica e sobretudo a vastíssima literatura produzida
ao longo dos tempos sobre as más e boas práticas de política monetária seguida
no período imediatamente anterior à Grande Depressão de 1929 e na recuperação
dessa tragédia macroeconómica. A macroeconomia falhou porque se negou a entender
os sinais evidentes de uma recuperação anomalamente lenta e anémica, que custou
uma brutalidade de destruição de riqueza e situações de grave degradação das
condições de vida de um número infindável de cidadãos. Falhou porque continuou
impávida e serena numa inércia trágica de construção de modelos macro assentes
em agentes representativos, que não são representativos de comportamentos económicos
instalados nas economias reais. Coppola refere que a economia dos comportamentos
está a dar os seus primeiros passos, sobretudo porque necessita de uma profunda
realimentação de investigação empírica de comportamentos económicos reais em épocas
de turbulência que não eram afinal uma realidade do passado.
Frances é uma militante das ideias e não
propriamente uma investigadora económica. Mas a comunidade de práticas da
macroeconomia tem uma necessidade profunda de quem abane o pensamento
estabelecido e o retire do sossego acomodatício. Compreende-se que a crise de
2007-2008 e seus prolongamentos e derivas europeias abalaram vidas de
investigação dedicadas a provar o contrário do que a realidade esmagadora
acabou por confirmar. Não é por acaso que os sinais de luz macroeconómica
tiveram origem ou em personalidades esquecidas e fora do mainstream económico, aquele que se reproduz nas cadeias de
montagem das revistas acríticas e não atentas ao contrafactual dos nossos dias,
ora em personalidades reconhecidas academicamente mas com reduzido peso de
influência política através das ideias.
Falhou a macroeconomia e falharam os
posicionamentos políticos que se apoiaram na inércia e não na dinâmica do
pensamento.
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