(João Relvas -Lusa)
Recordo-me que, há longos anos, no desaparecimento
do meu saudoso e irreverente amigo Arquiteto Nuno Guedes de Oliveira, em
conversa com o seu primo e amigo Dr. Vasco Vieira de Almeida, este dizia para
um grupo de amigos comuns em que me encontrava que, ao fim de semana, quando se
liam os semanários, e na altura tal como hoje despontava o Expresso, ficávamos
com a impressão que os gestores em Portugal estavam limitados a uma pequena
corte colunável.
Lembro-me que na altura me veio ao pensamento uma
dicotomia entre os gestores de capa e os gestores-formigas. Ao longo destes
anos, esta dicotomia nunca me saiu do pensamento, tendo o grupo dos gestores de
capa continuado em franco florescimento, alguns dos quais autenticamente
babados pelo estatuto de gestores de empresas pretensamente globais. Administrando
uma pequena empresa de serviços, mas considerando-me sempre mais um consultor embrenhado
no trabalho do que propriamente um gestor, continuei atento a esta dicotomia
sempre convicto de que os gestores-formigas nunca foram devidamente
considerados.
A lenta e depois precipitada agonia do modelo de
acumulação de capital e de riqueza baseado no financiamento bancário nacional e
com dívida internacional do setor não transacionável colocou finalmente os
gestores de capa nas suas devidas proporções, sobretudo porque se esgotou (ou
pelo menos foi parcialmente exaurida) a fonte da captura dos recursos do Estado
e do sistema rentista que o proporcionou.
Mas estas quedas para serem expressivas precisam
de um ritual simbólico, notório para todos, mesmo para os mais incautos e
desprevenidos.
O esboroamento e vigarices do BES, GES e
quejandos e o desmantelamento da PT numa das mais impressionantes destruições
de valor que alguma vez ocorreram em Portugal colocaram os gestores de capa na
mais profunda vulgaridade, evidenciando de forma expressiva como a sua ascensão
ao estrelato só foi possível com a degradação absoluta do modelo de
responsabilidade corporativa das empresas. Sempre entendi que os gestores de
topo sobretudo os que percebem as oportunidades de mercado como ninguém não são
necessariamente gente que impressione pela sua eloquência verbal assumida em público,
partilhando com outros o seu conhecimento e as suas visões. Essa nata é-o porque
tem uma capacidade de decidir em tempo curto processando muita informação em
simultâneo e isso é que os distingue. Os gestores de capa não resistem a um
pequeno stresse friccional do verniz que os protege. Com um mínimo conjunto de
valores de responsabilidade social corporativa, a maior parte desta gente não
sairia à rua, refugiar-se-ia no metal das suas pensões e sairia pela porta
baixa. Os casos BES, GES e PT pelo contrário vão gerar quedas com estrondo e os
gestores-formigas vão finalmente compreender que têm de encontrar novos
exemplos de emulação ou de inspiração. Por tudo isto, fico perplexo com as
declarações de António Costa ao jornal i quando ele diz que “BES e PT foi o que
foi com gestores competentíssimos”. Estará a escapar-me alguma nuance?
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