domingo, 29 de março de 2015

UMA CRUZINHA NO BAÍA, VÁ LÁ!


Vítor Baía (VB) foi um grande guarda-redes de futebol, quiçá o maior de todos os tempos em Portugal (com a devida licença de Damas, Barrigana e Azevedo, entre outros). Além disso, representou o meu clube de eleição e com esse emblema ao peito conquistou memoráveis títulos nacionais e internacionais. Aqui fica, pois, a minha declaração de interesses explicitando a grande admiração que tenho por VB, o atleta, o profissional e até o cidadão que entretanto se licenciou em Gestão Desportiva e dedica algum do seu tempo a projetos sociais no âmbito da Fundação que criou.

Vem toda esta conversa a propósito de uma entrevista concedida por VB e que abre o suplemento “Outlook” do “Diário Económico” deste fim-de-semana, um texto a que acedi por mero acaso na sala de espera da oficina onde aguardava a entrega da minha viatura em revisão. “Admito entrar na política como independente”, afirmava VB em título para mais em baixo explicar mais em detalhe: “Já esteve mais longe, pois vejo tanta coisa e revolto-me tanto que me interesso cada vez mais por esse mundo [a política]. Admito entrar, mas de uma forma independente, sem partidos, talvez num movimento de cidadãos, pois sinto que as pessoas merecem isso: mais seriedade e cuidado nesse tipo de gestão e nas decisões que se tomam a esse nível.”

Pois é. Embora VB não passe obviamente de um pretexto que me caiu no colo, e seja seguramente um mero e inofensivo exemplo de uma doença maior, o facto é revelador do estado de indigência coletiva a que chegamos. Porque VB não admite entrar na política para ser um qualquer diretor-geral dos “goleiros”, nem por ter uma qualquer ideia/projeto ou competência específica numa área que conheça ou de que tenha experiência, nem por razões ideológicas ou partidárias minimamente amadurecidas, nem pelas capacidades de gestão que os estudos e a vida lhe proporcionaram (ele que até parece que foi alvo de significativas crateras no seu património), mas apenas porque se revolta e defende que as pessoas merecem mais seriedade – no caso, a dele. Que Deus lhe valha e, à boleia, que também nos acuda que ainda acabamos com disputas eleitorais entre Paulo Morais e Marinho e Pinto (em nome da incorruptibilidade e da transparência), entre José Gomes Ferreira e Camilo Lourenço (em nome da lata e da vulgata para-económica), entre Teresa Guilherme e Manuela Moura Guedes (em nome da pirosada e da pouca vergonha), entre José Cid e Tony Carreira (em nome do romantismo e da dimensão poética) ou entre Ana Sofia Marques Mendes e Luís Menezes (em estrito nome da luminosa auréola alcançada por um e outro pai e num emocionante remake do respetivo afrontamento de outrora)...

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