terça-feira, 3 de março de 2015

AS HUMILDES CONFISSÕES DO JOVEM PASSOS



Extraordinária prestação de Passos, hoje no encerramento das jornadas parlamentares do seu partido. Daquelas que definem, sem margem para quaisquer hesitações, a qualidade de um homem e a presença de um estadista. Além de serem epistemologicamente intocáveis ao evidenciarem de modo brilhante o corte entre o homem sério de hoje, que tão bem se soube recolocar na sociedade para a servir, e o miúdo inconsciente de outros tempos, felizmente já idos – assim uma espécie intelectualmente recauchutada daquela velha distinção entre os trabalhos mais maturados de Marx e aqueles que preliminarmente realizara enquanto jovem de inacabada formação teórica. Deixo um excerto para memória futura: “Eu não sou, nem nunca arvorei ser, um cidadão perfeito. Eu tenho as minhas imperfeições. E posso dizer, como ainda há pouco disse, que em consciência cumpri sempre aquelas que achei que eram as minhas obrigações, mas que se algum dia, por não ter essa noção, me tenham chamado a atenção para elas as corrigi imediatamente. (...) Eu acho que está na altura de dizer, com muita humildade: quem quiser remexer na minha vida para encontrar episódios desses, não precisa de se dar a tanto trabalho nem de quebrar deveres de sigilo, pode ter a certeza de que eu, muitas vezes na minha vida, ou me atrasei ou entreguei na altura que o Estado me exigiu aquilo que me era exigível. Ninguém com certeza esperará que eu seja um cidadão perfeito. Mas posso dizer-lhes uma coisa: nunca deixei de solver as minhas responsabilidades, não tenho nenhuma dívida ao Fisco e quem por via do seu zelo quiser invadir a minha esfera privada – hoje para falar de declarações que possa ter apresentado fora de prazo e com multa, amanhã multas de trânsito que possa ter tido, ou qualquer outro facto desta natureza – que não encontrará nunca – eu isso posso-vos garantir! – no cidadão Pedro Passos Coelho ninguém que como primeiro-ministro usou o lugar que tinha para ocultar ou esconder e evitar qualquer tratamento exatamente igual ao que qualquer outro cidadão teria.”

Passos jura não ser um cidadão perfeito, que sempre cumpriu o que achou, que corrigiu os seus erros quando estes lhe foram apontados, que é um tipo humilde, que já entregou declarações atrasadas e pagou multas diversas, que nunca usufruiu de tratamentos especiais. Embora sobre a Tecnoforma tenha dito nada e sobre a dívida à Segurança Social tenha esclarecido zero, Passos comoveu os portugueses e mostrou a sua coragem, e a da sua família aliás – “estamos preparados e prontos para tudo” foi afirmação a que certamente ninguém pôde permanecer indiferente, incluindo os corações mais empedernidos. Só foi realmente pena que tenha ficado por explicar se todo e qualquer outro cidadão identicamente incumpridor poderá doravante contar com declarações tão rápidas, diligentes e estapafúrdias quanto as do pequeno e ridículo ministro Mota...

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